Título: Farra das passagens: relatório cita 5 deputados
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 26/07/2009, O País, p. 11

Corregedoria da Câmara deve aprofundar investigação sobre parlamentares de PMDB, PSDB, DEM, PTB e PP

Isabel Braga

BRASÍLIA. Dos 39 gabinetes investigados pela comissão de sindicância da Câmara, sobre a existência de um mercado paralelo de venda de passagens da cota parlamentar, cinco deputados deverão ter seus casos aprofundados pela Corregedoria da Casa: Eugênio Rabelo (PP-CE), Paulo Roberto (PTB-RS), Márcio Junqueira (DEM-RR), Roberto Rocha (PSDB-MA) e Veloso (PMDBBA).

No caso de Junqueira, um funcionário seu, Marcos Aurélio Vilanova, foi apontado pela sindicância como um dos cinco suspeitos de operar o esquema de emissão irregular dos bilhetes.

Junqueira negou envolvimento com o esquema, e disse estar aberto a qualquer tipo de investigação. O deputado admitiu, porém, que usava sua cota para dar passagens a pessoas de seu estado e que recorria a uma agência de turismo para emitir bilhetes extras.

¿ Sempre trabalhei com a cota estourada, para atender a pedidos de remoção de doentes (a outros estados). Ficava sem passagem para mim. A agência me atendia, antecipava passagens. Tenho toda a documentação. Não tem nada de ilícito ¿ disse Junqueira.

O relatório da comissão de sindicância não opina sobre o envolvimento dos deputados, só transcreve depoimentos e relata situações. Pessoas que tiveram acesso ao texto avaliam que a situação dos cinco deputados merecerá o aprofundamento das investigações, decisão que caberá ao corregedor da Casa, deputado ACM Neto (DE-BA).

No caso do deputado Eugênio Rabelo, uma ex-funcionária dele disse ter emitido os bilhetes atendendo a ordem do próprio Rabelo. O GLOBO tentou falar com Rabelo e não obteve resposta.

O líder do PP, Mário Negromonte (BA), defendeu o colega: ¿ Ele me disse que foi a funcionária que fez a negociação.

Ele prestou queixa dela na polícia.

Bilhete de petebista foi vendido a Gilmar Mendes Outro nome que chama atenção no relatório é o do deputado Paulo R o b e r t o (PTB-RS). Foi da cota dele que surgiram bilhetes usados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e que deram origem à investigação da Câmara.

Gilmar provou que comprou os bilhetes numa agência de viagens. Paulo Roberto disse estar tranquilo porque tomou providências em 2008, quando desconfiou que um funcionário usava irregularmente sua cota. Ele disse que, ao constatar o problema, demitiu o funcionário e pediu que o Departamento de Polícia da Câmara (Depol) investigasse o caso.

¿ Estou tranquilo. Fiz uma contratação errada. Demiti assim que suspeitei. O corregedor tem que me ouvir. A melhor defesa é o ataque. Ele foi demitido porque eu desconfiei dele e terá que devolver o dinheiro público ¿ afirmou Paulo Roberto.

O deputado Roberto Rocha (PSDB-MA) negou qualquer envolvimento e estranhou a referência a seu nome.

Frisou que ele foi um dos que pediram a investigação, ao constatar o uso de sua cota para emitir bilhetes para desconhecidos.

¿ É curioso. Sou o presidente do PSDB no Maranhão e adversário de Sarney. Imagine o que ele fará com essa informação ¿ reagiu Rocha.

O deputado Veloso não foi localizado.