Título: Plano para elevar exportações
Autor: Oliveira, Eliane; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 20/07/2009, Economia, p. 15

Com política pública para "tradings", governo quer manter pequenas empresas no comércio global

Eliane Oliveira e Martha Beck

Num cenário de forte desaquecimento da demanda mundial, o governo quer evitar, através das tradings - empresas que atuam no comércio exterior -, o total comprometimento da meta de elevar as exportações a 1,25% (US$209 bilhões) das vendas mundiais até 2010, divulgada há dois anos em sua política industrial. Mais do que isso: pretende reduzir a fuga de micro, pequenas e médias empresas do universo exportador brasileiro. Para isso, decidiu mapear o setor, tido como altamente desorganizado e, ao mesmo tempo, tão importante para a balança comercial, discutindo e implementando políticas públicas, estimulando a criação de uma associação com representatividade nacional e aproximando as tradings das empresas brasileiras.

- Queremos promover o casamento entre as tradings e os setores voltados ao comércio exterior- resumiu o coordenador da área de negócios da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Juarez Leal.

O primeiro passo foi encomendar um estudo sobre o setor à Fundação Getulio Vargas (FGV), obtido com exclusividade pelo GLOBO. Entre as conclusões, essas firmas - em torno de mil empresas voltadas exclusivamente ao comércio exterior das mais de 5.700 apuradas -- são responsáveis por 12% das exportações. São também vitais para empresas de menor porte, dada sua capacidade de se financiar no mercado externo para comprar, à vista, os produtos que vão despejar no exterior.

Área sentiu menos os efeitos da crise

Essas firmas não fazem apenas intermediação comercial. Tratam de prospecção de mercado, suporte logístico, apoio à adaptação do produto às exigências do importador e realizam serviços financeiros, como gerenciamento de risco e seguros, estruturação de operação de financiamento e pagamento a fornecedores. Os mercados de destino são variados, mas, para o governo, as prioridades devem ser América Latina, Oriente Médio e África.

Entre os problemas apontados no estudo, destacam-se a dificuldade de viabilizar operações de crédito, as exigências para habilitação no Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), questões aduaneiras e deficiência no atendimento dos padrões de qualidade exigidos pelos importadores.

- Uma empresa de pequeno porte não tem sequer condições de conseguir financiamento. Daí a importância das tradings - disse o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

De acordo com o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, o setor sentiu menos do que os demais a crise financeira internacional. Enquanto as exportações das tradings caíram 6,7% no primeiro trimestre deste ano, as vendas globais amargaram uma queda de 22% em comparação ao mesmo período de 2008. As compras externas em geral diminuíram 28%, enquanto as realizadas pelas tradings tiveram uma redução de 22%.

- Recorrer às tradings para ingressar no mercado internacional é o melhor caminho - afirmou Barral.

Para empresário do ramo, falta apoio

No ramo há 30 anos, o empresário Alfredo de Goeye, da Sertrading, concorda que o melhor caminho para aumentar a presença do Brasil no mercado internacional é por meio dessas intermediárias. Ele lembrou que as tradings existem oficialmente no Brasil desde 1972.

- Quando nasceram, foram bastante prestigiadas pelo governo. No entanto, caíram num lugar comum e perderam apoio. Na verdade, as tradings jamais foram consideradas um indutor de comércio exterior - avaliou Goeye.

Ele explicou que há dois tipos de tradings: as generalistas, que trabalham com um universo significativo de produtos; e as especialistas, que operam normalmente apenas com commodities.

- No nosso caso, não sofremos muito com a crise, porque nos enquadramos na categoria generalista, com pauta bastante variada - disse o empresário, que tem como principais mercados de destino América Latina, África e Oriente Médio e, como fornecedores, os países asiáticos.

Damaris da Costa, da Braseco, que há 32 anos começou sua carreira na área de tradings desbravando o mercado africano, recorda que o Brasil exportava na época, praticamente, açúcar e café.

- Entramos na África vendendo máquinas e equipamentos - disse. - São as tradings que levam as empresas ao mercado externo. O problema é que nunca são reconhecidas. Ao contrário, muitos pensam que as tradings são atravessadores ou intermediários, e nunca como uma alavanca do comércio internacional.