Título: PF: filho de Sarney tentou obstruir investigações
Autor: Franco, Bernardo Mello; Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 25/07/2009, O País, p. 10

Gravações mostram Fernando instruindo porteiro a mentir a policiais e assessor a usar laranja para comprar celular

Bernardo Mello Franco e Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. O relatório da Operação da Polícia Federal mostra que Fernando Sarney ocultou provas e deu ordens expressas a assessores para tentar obstruir as investigações da Polícia Federal. Escutas autorizadas pela Justiça flagraram o filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), orientando funcionários a esconder dados e usar telefones em nomes de laranjas para manter os negócios do grupo em sigilo. Numa das ocasiões, Fernando Sarney chegou a acionar o porteiro de seu edifício em São Paulo para despistar os investigadores.

"Diz que o rapaz fez uma operação, tirou câncer, tá?"

O diálogo com o porteiro revela um jogo de gato e rato entre os agentes da PF e os assessores da família Sarney. Foi gravado em 19 de julho de 2008, quando Marcos Bogea, o Marquinho, era procurado no apartamento do chefe nos Jardins, na capital paulista. Às 9h09m, ele ligou para Fernando Sarney, em pânico: "Quero saber se vai acontecer alguma coisa comigo. Não vai acontecer nada comigo não, né, Fernando?".

De imediato, o filho de Sarney quis se certificar de que o funcionário não havia falado com ninguém. Em seguida, tentou tranquilizar Bogea, dizendo que nada aconteceria, e mandou que ele aguardasse no local.

Poucos minutos depois, às 9h25m, outro diálogo mostra que três agentes da PF estavam na porta do edifício à procura de Bogea. Assustado, o assessor passou o telefone ao porteiro, Gileno, que relata a cena ao patrão: "Eu tô com três deles aqui na frente da portaria do prédio. O que eu falo para eles?".

Fernando Sarney diz que enviaria alguém ao local, e instrui o porteiro a despistar os policiais, alegando que Bogea estaria em tratamento de saúde: "Esse rapaz passou aqui agora dois meses, fez uma operação, tirou um câncer e tal. (...) Diz isso pra eles, tá?".

"Atos evidentes de maquiagem e destruição de provas"

Mais tarde, em outro diálogo, Fernando Sarney orienta Bogea a usar um celular pré-pago em nome de um laranja para fugir das escutas: "Arruma logo um de cartãozinho, alguma coisa, tá certo? (...) Compra aí em São Paulo mesmo (...), mas discretamente, não no seu nome, empregada, alguma coisa".

Irritado com os artifícios do filho de Sarney, o delegado Márcio Adriano Anselmo dedicou todo um capítulo do relatório às tentativas de ocultar provas. "Fernando Sarney (...) utilizou-se de números diversos por curto período de tempo, a fim de evadir-se de eventual monitoramento. De resto, restou evidente os atos de Fernando Sarney e seus subordinados na maquiagem e destruição de provas", escreveu.