Título: PDT, PSDB, DEM e PSOL pedem saída de Sarney em manifesto
Autor: Lima, Maria; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 07/08/2009, O País, p. 4

Duque vai mandar arquivar todas as ações contra presidente do Senado

Maria Lima e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Quatro partidos que são contra o arquivamento sumário dos pedidos de investigação contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no Conselho de Ética, divulgaram ontem um manifesto, assinado pelos líderes de PDT, PSDB, DEM e PSOL e sete representantes de outras legendas - totalizando 39 assinaturas, dois a menos que os 41 votos necessários para cassar o mandato de um senador - pedindo o seu afastamento da presidência até que termine a apuração de todas as denúncias. O líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), continua contrário à ratificação, pela bancada petista, do manifesto da frente anti-Sarney.

Mas três senadores petistas assinaram por conta própria o manifesto, ontem: Augusto Botelho (RR), Tião Viana (AC) e Flávio Arns (PR). No Conselho, os três representantes do PT, afinados com o Planalto, poderão votar pelo desarquivamento das denúncias. Do PMDB assinaram Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos (PE), e do PSB, o senador Renato Casagrande (ES).

Cristovam lê manifesto para Sarney em plenário

Hoje o presidente do Conselho, Paulo Duque (PMDB-RJ), encaminha para publicação despacho mandando arquivar outras três representações do PSDB, uma do PSOL, uma denúncia de Arthur Virgílio (PSDB-AM) e outras duas denúncias assinadas conjuntamente pelo líder tucano e por Cristovam Buarque (PDT-DF). Todas sobre o envolvimento de Sarney em atos de nepotismo, ligação com a fundação que leva seu nome, suspeita de desvio de recursos da Petrobras e uso de atos secretos para nomear o namorado da neta Maria Beatriz.

O manifesto, repetido numa carta que seria entregue a Sarney, foi lido em plenário por Cristovam, quando o acusado presidia a sessão. O texto reafirma que o Senado só vai recuperar sua dignidade com apuração de credibilidade de todas as denúncias e pede, de novo, o afastamento de Sarney do cargo.

- V. Excelência diz que quer paz. Mas a paz não vai chegar. Os que o ajudam não querem a paz. Querem massacrar, destruir - disse Cristovam.

- Obrigado, V.Excelência, por sua isenção e pelo zelo que tem tido com minha biografia - limitou-se a responder, com ironia, Sarney.

Numa reunião, de manhã, um grupo de senadores de vários partidos discutiu como recorrer contra o arquivamento das representações feito por Paulo Duque, anteontem. O prazo para o recurso é de 48 horas após a publicação do arquivamento.

Segundo Virgílio, o regimento diz que é preciso ter o apoio de cinco membros do Conselho para recorrer ao plenário do colegiado, e de nove para recorrer ao plenário da Casa. Mas os integrantes da tropa de choque de Sarney alegam que a oposição, pelas novas regras regimentais, só podem recorrer ao plenário do Conselho, onde o recurso morre ou é aprovado.

O recurso só tem chance de ser aprovado com o apoio do PT. São necessários 8 dos 15 votos de titulares para aprovar o recurso e permitir a abertura do processo de investigação contra Sarney. Até agora, DEM, PDT e PSDB têm seis votos. Seria necessário mais dois votos favoráveis, que só poderiam vir dos três representantes do PT: Ideli Salvatti (SC), João Pedro (AM) e Delcídio Amaral (MS).

- Não acho bom para o Senado o arquivamento de todas as representações, como se tudo o que foi representado não precisasse de investigação. Também é verdade que há representações que não estão bem fundamentadas - disse Mercadante, sinalizando que o partido deveria votar pela abertura de investigação em pelo menos uma representação.