Título: Lula rejeita interferência dos EUA
Autor: Oliveira, Eliane; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 07/08/2009, O Mundo, p. 34

Governo brasileiro quer luta conjunta contra tráfico e pede que ação americana se limite à Colômbia

Eliane Oliveira e Luiza Damé

Pouco convencido com as explicações do presidente colombiano, Álvaro Uribe, com quem conversou durante duas horas ontem à tarde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou descontentamento com o acordo entre EUA e Colômbia. Lula disse a Uribe que o combate ao narcotráfico é um tema que pode ser tratado no âmbito do Conselho de Defesa da Unasul (União Sul-Americana de Nações), sem a interferência de países de fora da região. Sugeriu também que Brasil e Colômbia trabalhem juntos no combate ao narcotráfico.

Para Amorim, o Conselho de Defesa da Unasul deve ser visto como um fórum que crie um clima de confiança, com todos os países da América do Sul:

- Esse clima de confiança deve permitir que certas questões que possam surgir sejam respondidas e certas dúvidas dirimidas de maneira técnica. Claro que não somos ingênuos. Sabemos que isso não é uma coisa fácil, mas o objetivo é caminhar nessa direção. Falamos também sobre a cooperação bilateral e multilateral. É importante que os países da América do Sul assumam o combate ao narcotráfico como algo que temos de combater, sem ingerências externas.

Lula disse ainda a Uribe que o governo brasileiro está preocupado com a possibilidade de o acordo entre EUA e Colômbia não ficar restrito a ações dentro do território colombiano. Segundo Amorim, Lula pediu garantias de que o acordo se restrinja a ações contra o tráfico.

Uribe explicou os termos do acordo, mas não conseguiu convencer o governo brasileiro. O mesmo se passou com o general James Jones, conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, que esteve anteontem em Brasília. Tanto é assim que novas consultas serão feitas. De sua parte, Uribe manteve sua posição e não deverá ir à cúpula de chefes de Estado da Unasul, segunda-feira, no Equador.

- Nossas preocupações foram expressas, o presidente Uribe deu os esclarecimentos que achou que deveria dar e os objetivos do acordo com os EUA. Reiteramos que ele deve ser específico e delimitado ao território colombiano. É matéria de soberania colombiana, desde que compatível com essa delimitação - disse Amorim.

Para Cristina, bases são bomba-relógio

A visita ao Brasil foi a última de um périplo feito por Uribe por sete países nos últimos três dias. Ele esteve em Peru, Chile, Argentina, Paraguai, Bolívia e Uruguai, mas ignorou Venezuela e Equador - países com os quais a Colômbia está em crise.

Como tem feito em suas viagens, Uribe pediu ontem o apoio do Brasil - sem êxito - e fez declarações evasivas ao deixar o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede provisória do governo Lula. Dirigindo-se aos jornalistas que o esperavam, afirmou:

- Quero saudar a todos os comunicadores do Brasil e expressar o agradecimento pelo diálogo que acabo de ter com o presidente Lula.

Em seu encontro com Uribe, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, manifestou sua oposição ao acordo. De acordo com fontes, ela disse a seu colega colombiano que a utilização de bases colombianas por americanos "seria inconveniente" e "criaria um clima de tensão na região".

- Trata-se de uma bomba-relógio, falta ligar o relógio para ver quando vai explodir - teria dito Cristina ao presidente colombiano, segundo versões extraoficiais.

A presidente argentina também teria dito a Uribe que considera contraditória a ampliação do Plano Colômbia, quando Bogotá informa que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) estão enfraquecidas.

COLABOROU: Janaína Figueiredo