Título: Lupi ataca confederações patronais
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 07/08/2009, Economia, p. 30

Ministro critica saída do Codefat e diz que senadora está acostumada com "boi no pasto"

Geralda Doca

BRASÍLIA. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, disse ontem que esperava maior independência das entidades empresariais que se uniram à Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e renunciaram à participação no Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat). Ele afirmou que a presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (DEM-TO), queria transformar o órgão, que faz parte da pasta, num "Senadinho da oposição". Disse ainda que ela está acostumada a lidar com "boi no pasto e acha que todo mundo é assim".

- Lamento que as entidades tenham saído lideradas pela senadora de oposição e do DEM, que queria transformar o Codefat num Senadinho da oposição. Esperava mais independência das entidades. Porque a senadora é uma andarilha do ódio, mas eu esperava que isso não contaminasse os demais - afirmou o ministro, que acrescentou: - Ela está acostumada a lidar com boi no pasto e acha que todo mundo é assim. Eu sou cana de canavial, duro de sair.

Procurada, a senadora não quis comentar as declarações. Em nota, criticou o estilo adotado pelo ministro: "Lamento o teor das declarações e o estilo usado por um ministro de Estado do Brasil. É só isto o que tenho a dizer a respeito das declarações do ministro Carlos Lupi a meu respeito".

A saída das entidades patronais do Codefat foi formalizada anteontem numa carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assinada pelos dirigentes das confederações da Agricultura (CNA), da Indústria (CNI), do Sistema Financeiro (Consif) e do Comércio (CNC). Outras entidades como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Empresas de Crédito (Comtec) e o movimento Ação Empresarial, coordenado pelo empresário Jorge Gerdau, estão apoiando a medida.

A decisão foi tomada na semana passada em retaliação à interferência do ministro na eleição do novo dirigente do colegiado, o presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS), Luigi Nese. Havia um acordo firmado entre as confederações de que a presidência do Codefat - que é rotativa e conta com 18 membros - iria para um representante da CNA.

Apesar das críticas, Lupi afirmou que não voltará atrás porque não tem poderes para mudar o resultado da eleição. Nese foi eleito por 12 votos a favor e duas abstenções (dos ministérios da Previdência e da Agricultura). Os representantes das confederações abandonaram a reunião antes da votação.

Lupi rebateu ainda a acusação das entidades, citada na carta enviada ao presidente, de que há suspeitas na criação da CNS, fruto de uma dissidência da CNC. A nova confederação nasceu na gestão do ministro e está sendo questionada na Justiça.

- Na hora em que você perde, você denuncia o vitorioso. Que democracia é essa? - perguntou Lupi.

Codefat administra patrimônio de R$158 bi

Ele disse que, uma vez formalizada a saída das confederações, ele aguarda ser chamado pelo presidente Lula para dar explicações. Afirmou ainda que outras confederações nacionais - as da Saúde (CNS), dos Transportes (CNT) e do Turismo (CNTur) - deverão tomar o lugar das dissidentes.

O Codefat é responsável pela gestão dos recursos do FAT, que tem um patrimônio de R$158 bilhões, aplicados no setor produtivo. A receita estimada para este ano é de R$33,5 bilhões.