Título: Trabalhador com baixa escolaridade sofreu mais com crise, aponta Rais
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 07/08/2009, Economia, p. 30

Mercado de trabalho fechou vagas para quem tinha até a 8ª série em 2008

Geralda Doca

BRASÍLIA. A crise financeira global, que estourou em setembro de 2008, atingiu mais os trabalhadores com baixa escolaridade, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), divulgada ontem pelo Ministério do Trabalho. No ano passado, o mercado formal fechou vagas para quem tinha até a oitava série do ensino fundamental - segmento que registrou saldo negativo (diferença entre contratações e demissões) de 147.764 postos. A geração de empregos só foi favorável a quem cursou do ensino médio em diante. Devido a esse movimento, a renda média dos assalariados subiu 3,52%, saindo de R$1.443,77 para R$1.494,66.

Segundo o cadastro, o país fechou 2008 com saldo positivo de 1,834 milhão de postos, acima do 1,454 milhão de empregos registrados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do ministério. O resultado da Rais, porém, ficou abaixo de 2007, de 2,452 milhões de vagas.

- A Rais mostra que a crise prejudicou mais quem tem baixa escolaridade e recebe salários menores - afirmou o ministro do Trabalho, Carlos Lupi.

Ministro: este ano serão abertas 1 milhão de vagas

A Rais, segundo o ministro, é mais abrangente por incluir trabalhadores com carteira assinada, avulsos, temporários e concursados, além das informações prestadas pelas empresas com atraso. Em 2008, o universo de assalariados no Brasil atingiu 39,442 milhões de pessoas, e a previsão de Lupi é ultrapassar 40 milhões este ano, apesar da redução do ritmo da atividade econômica, sobretudo na indústria.

- A próxima Rais será melhor porque 2008 foi o ano da crise, principalmente em novembro e dezembro, com recorde de demissões. Tivemos um crescimento pequeno no primeiro semestre deste ano, de apenas 300 mil empregos, mas vamos fechar 2009 com um milhão - disse Lupi.

A pesquisa mostrou também que as mulheres ganham 82,7%, em média, dos salários pagos aos homens. Em 2008, o rendimento médio auferido por eles atingiu R$1.609,26, contra R$1.330,86 do sexo oposto. Com ensino médio completo, a renda das mulheres era de R$896,07 contra R$1.291,49 dos homens com a mesma escolaridade. A diferença é ainda maior com ensino superior completo: R$2.486,30 para elas ante R$4.367,67 para eles.

Mulheres continuam a ganhar menos que os homens

Outra constatação do levantamento é a baixa participação de portadores de necessidades especiais no mercado de trabalho. Em 2008, eles foram apenas 323,2 mil trabalhadores, ou 1% do total. O ministro admite falha na fiscalização e alega que os cerca de três mil fiscais são insuficientes para exigir o cumprimento da lei, que prevê entre 2% e 5% do quadro de pessoal.

De acordo com a Rais, as maiores oportunidades de emprego foram de empresas com até 99 funcionários, com 55,1% das vagas abertas no ano. Em seguida vêm aquelas com mais de mil empregados. O menor desempenho foi observado no segmento intermediário (entre cem e 999 empregados).

A Rais também aponta que o mercado é mais favorável para quem tem entre 30 e 39 anos. Mas, pelo segundo ano consecutivo, cresceram as ofertas de vagas para quem tem entre 16 e 17 anos e com 65 anos ou mais. Em 2008, o setor de serviços foi o que mais contratou: 645,6 mil postos. E a Região Sudeste se destacou, com 853,5 mil empregos, seguido pelo Nordeste, que superou o Sul.