Título: Sociedade reage a baixo nível do Senado com desgosto e indignação
Autor:
Fonte: O Globo, 08/08/2009, O País, p. 8

Bate-boca entre senadores foi classificado como deprimente e vergonhoso

Na semana em que senadores bateram boca no Senado, usando palavrões e fazendo ameaças, e quase chegaram à agressão física em plenário, a sociedade reagiu demonstrando desgosto, vergonha, indignação, tristeza e revolta com os rumos da Casa. Artistas, religiosos, juristas e representantes de entidades civis classificaram as brigas de Renan Calheiros (PMDB-AL) e Tasso Jereissati (PSDB-CE), anteontem, e a de Pedro Simon (PMDB-RS), Renan e Fernando Collor (PTB-AL), na terça-feira, de patéticas, aterradoras e deprimentes.

Para o jurista Célio Borja, a crise do Senado não é institucional, mas de moralidade e compostura. Em sua opinião, há uma justa indignação da opinião pública sobre a apropriação de bens públicos por entes privados e outros desvios, mas a crise atual é também movida por interesses particulares: No Senado, já houve tiros e morte, esses bate-bocas não são inéditos. Essa onda que se criou em torno do Senado e de seu presidente é consequência, em parte, de grupos que disputam o poder na Casa. São egos imensos em disputa, querendo comer uns aos outros.

O também jurista Celso Antonio Bandeira de Mello, professor da PUC de São Paulo, acha que a crise do Senado é uma demonstração da inconsistência da democracia brasileira: Não aprendemos na escola o mínimo a respeito da cidadania e ninguém sabe nada da Constituição.

Hoje não temos cultura democrática. Por isso temos espetáculos deprimentes como esses.

Esse bate-boca é o sintoma mais patético da história toda: do fisiologismo, do isolamento dos senadores em relação à realidade e ao país afirmou o ator e diretor Enrique Diaz.

Não aprendemos na escola o mínimo a respeito da cidadania e ninguém sabe nada da Constituição.

Ninguém sabe nada sobre a função de um vereador, de um deputado estadual e federal. Hoje não temos cultura democrática. Por isso temos espetáculos deprimentes como esses Celso Antonio Bandeira de Mello, jurista

A modificação que tem de ocorrer é muito radical. Só a mudança mais básica, que é saber em quem não votar, já é difícil, porque o país tem muita gente sem informação. A outra mudança, mais complexa, é em relação à mentalidade brasileira sobre a relação entre coisa pública e coisa privada Enrique Diaz, diretor de teatro

Os desmandos com os recursos públicos têm que ser corrigidos.

Sem correção, é democracia pela metade. Não adianta cobrar só o afastamento do presidente do Senado, porque virá outro que fará pior se os abusos não forem corrigidos.

Célio Borja, jurista

É um descalabro o que vem acontecendo. A gente aprende que o Senado é o símbolo maior do país, formado por pessoas com certa ética. Os senadores estão se comportando como quadrilheiros, bandidos sem responsabilidade conosco. A cidadania foi ofendida. O Romildo Rosa (político interpretado pelo ator em "A Favorita") perto deles é pinto! Milton Gonçalves, ator.