Título: Mal-estar na festa
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Fonte: O Globo, 08/08/2009, Opinião, p. 6

A União Sul-Americana de Nações (Unasul), criada em 2008, realiza segundafeira, em Quito, sua segunda reunião de cúpula. Em primeiro plano, festas: posse de Rafael Correa para mais um mandato, início de seu período na presidência da Unasul e comemoração do bicentenário da independência do Equador. Como pano de fundo, malestar pelas diferenças cada vez mais gritantes entre a Venezuela e o Equador, de um lado, e a Colômbia, de outro.

Faz bem o presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, em não comparecer ao encontro em Quito.

Lá, por conta da autorização para que os EUA usem bases em território colombiano, ele certamente seria hostilizado em uníssono pelo bloco bolivariano, que recebe mal disfarçado apoio do governo brasileiro em razão de simpatias ideológicas.

Uribe, que ano passado rejeitou a indicação para ser o primeiro presidente da Unasul, preferiu dar explicações pessoalmente sobre a ampliação do acordo que a Colômbia mantém com os EUA, em visitas nos últimos dias a sete capitais sulamericanas, incluindo Brasília. Certamente, Uribe levou a cada presidente informações sobre ações prejudiciais a seu país por parte de Venezuela e Equador, como o apoio ao bando armado das Farc, que se vale do narcotráfico para se financiar e lutar contra a democracia colombiana.

Têm razão os países sulamericanos ao pedirem todas as informações possíveis sobre a ampliação do acordo entre Colômbia e EUA, e debater seu possível impacto sobre o continente. Em visita a Brasília, o general James Jones, assessor de segurança nacional do presidente Barack Obama, não descartou que tenha havido um problema de comunicação, em relação ao resto da região, na questão do uso das bases colombianas.

Mas, para ter um mínimo de seriedade, é preciso que a reunião da Unasul aborde também, com igual intensidade, as ligações subterrâneas entre as Farc e os governos da Venezuela e do Equador. Aliás, até agora o governo da Suécia não recebeu de Caracas as explicações que pediu sobre o fato de armas vendidas à Venezuela nos anos 80 terem ido parar nas mãos dos narcoguerrilheiros nas selvas colombianas. Se não for assim, a Unasul será confirmada como uma entidade inócua, criada apenas para servir de palanque do antiamericanismo.