Título: Coronel de merda é excluído da ata oficial do Senado
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 08/08/2009, O País, p. 5

BRASÍLIA. O palavrão usado pelo líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), para xingar o tucano Tasso Jereissati (CE) não ficará registrado na História oficial: a expressão ¿coronel de merda¿ foi excluída da ata da sessão de anteontem do plenário e não constará no Diário Oficial do Senado nem nos anais da Casa. Apesar de as notas taquigráficas da sessão, distribuídas anteontem à noite, terem incluído o xingamento feito fora do microfone, a palavra ¿merda¿ foi excluída das mesmas notas expostas ontem na página do Senado na internet. As demais agressões foram mantidas.

O texto disponível anteontem era o seguinte: ¿O SR. TASSO JEREISSATI (PSDBCE): ¿ Eu coronel? Cangaceiro! Cangaceiro de terceira categoria! ¿ ¿O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB-AL) (Intervenção fora do microfone.): Você é um coronel de merda¿.

Ontem, ao acessar a íntegra dos debates no site do Senado, neste trecho, havia apenas a frase de Tasso. No caso de Renan, à frente de seu nome constava a informação de que a intervenção foi feita fora do microfone.

Na transcrição colocada na rede ontem pelo Senado, há outras referências a frases proferidas pelos dois senadores fora do microfone, com a manutenção do que foi dito. Entre elas, a que Renan chama Tasso de ¿coronel de nada¿. Ontem ficou assim: ¿O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB-CE): ¿ Eu coronel? Cangaceiro! Cangaceiro de terceira categoria!¿ ¿O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB-AL) (Intervenção fora do microfone.)¿ ¿O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB-CE): ¿ Você é o quê!?¿ ¿O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB ¿ AL) (Intervenção fora do microfone.): ¿ Você não é coronel de nada!¿ Segundo taquígrafos do Senado, tudo o que é dito pelos oradores na sessão é registra do literalmente, mesmo se fora do microfone. E só é excluído dos registros a pedido de um parlamentar. Quando Tasso acusa Renan de quebrar o decoro por dirigir-se a ele com palavra de baixo calão, pedindo que José Sarney (PMDB-AP) abra representação sobre o fato, Renan reage, irônico: ¿Presidência, peço desculpas, e peço para V. Excelência retirar da sessão de hoje que minoria com complexo de maioria é falta de decoro parlamentar¿. Ou seja, não pediu formalmente a retirada do palavrão.

A secretária-geral do Senado, Cláudia Lyra, disse que ninguém pediu a exclusão do termo e que a orientação, não só neste caso específico, é que as notas devem conter tudo o que é dito e aparecer na gravação. Ela não soube explicar, porém, por que a versão que foi para a rede, anteontem, tinha o palavrão: ¿ A orientação geral é a de sempre colocar tudo o que está na gravação, no áudio. É a prova material. Se o palavrão estiver no áudio e o presidente disser retire, retira-se. Se não, fica.

À noite, ela disse que o comentário na taquigrafia era o de que o palavrão não estava no áudio. O GLOBO tentou entrar em contato com a diretora da Taquigrafia, Denise Baeri, sem resposta. A assessoria do presidente Sarney também afirmou que não houve ordem da presidência.

Renan também foi procurado, mas não respondeu.