Título: Rio na lanterna
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 09/08/2009, Economia, p. 31

Violência e estagnação da economia fizeram varejo carioca ter pior desempenho em 10 anos

A decadência econômica do Rio, a falta de planejamento urbano e a violência fizeram com que o comércio carioca amargasse o pior resultado entre as dez principais capitais do país na última década. Segundo levantamento inédito do recém-criado Centro de Estudos Econômicos do Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDL-Rio), de 1997 a 2007, o crescimento do número de estabelecimentos no município é de apenas 12,3%, enquanto outras cidades registraram ritmo até seis vezes maior, como Fortaleza (70,6%), Manaus (69,3%) e Brasília (78,1%). Nas grandes capitais, a expansão registrada foi o dobro da carioca (26,5%, caso de Belo Horizonte) ou até o triplo, como em São Paulo (33,2%).

¿ O Rio vem num processo de decadência econômica desde a mudança da capital para Brasília. O comércio, que cresce menos do que em todas as capitais pesquisadas, reflete isso. Na década, o comércio do Rio foi o pior do país ¿ disse Mauro Osório, professor da UFRJ e um dos responsáveis pelo estudo do CDL-Rio, que será entregue a representantes dos governos municipal e estadual.

O comércio do Rio também ficou na lanterninha no quesito abertura de vagas. No total das capitais, de 1997 a 2007, expansão foi de 54,9%.

Em São Paulo, de 58%. Em Brasília, de 117,7% e em Manaus, de 96,8%.

No Rio, de apenas 27,2%.

Para engrossar as estatísticas negativas, o Estado do Rio aparece abaixo da média nacional (13,9%) no que diz respeito a volume de vendas de janeiro de 2008 a maio de 2009. No varejo fluminense, a alta das vendas nesse período foi de 12,9%. Já a cidade do Rio teve desempenho um pouco acima da média nacional, com 14,1%.

¿ Apesar do desempenho pior que o das demais capitais, o crescimento do varejo carioca foi estimulado pelos consumidores da classe C, que tiveram ganhos de renda nos últimos anos ¿ acrescentou Aldo Gonçalves, presidente do CDL-Rio.

Segundo o economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a renda do morador do Estado do Rio também explica o fraco desempenho do setor na capital. A renda domiciliar per capita avançou 13,34% no país de 1997 a 2007. No Estado do Rio, essa expansão foi de 3,70%.

¿ O Rio é a capital com mais aposentados de alta renda. O reajuste da categoria foi menor do que o reajuste do salário mínimo, o que também afeta o comércio.

Ainda que outras regiões apresentem altos índices de violência, como Recife, a segurança pública afeta ¿ e muito ¿ os negócios no varejo carioca, lembrou o presidente da entidade. E isso atinge especialmente as atividades ligadas ao turismo, destacou Gonçalves.

¿ O Rio deixou de ser a porta de entrada do Brasil. A violência já está incorporada na economia da cidade.

E o comércio é um dos principais atingidos desse cenário ¿ avaliou Hildete Pereira, professora da UFF.

Periferia também tem o pior resultado

Ao abrir seu café Grão Fino Barfeteria, Alexandre Batista procurava um ponto comercial numa rua da Barra. Preferiu levar seu negócio para um shopping por temer a falta de policiamento da região: ¿ Por uma questão de segurança, mudamos de ideia. Por isso, meu custo foi maior: um espaço em shopping é mais caro que uma loja na rua.

A empresa cresce, mas o fato de estar no Rio não ajuda em nada. Se estivesse em São Paulo ou em Minas, talvez pudesse estar melhor. As pessoas têm medo de sair à noite. No meu setor, esse medo é um aspecto que não se pode deixar de considerar.

Outro dado apontado pelo CDLRio se refere à periferia das dez principais regiões metropolitanas do país. Nesse quesito, o Rio é disparado o pior do ranking nacional.

Historicamente deixada de lado, a periferia do Rio registra um aumento do número de estabelecimentos comerciais de apenas 14,4% de 1997 a 2007. Em São Paulo, esse avanço é de de 64,8%. Em Belo Horizonte, de 83,3%. E há altas impressionantes em Salvador (195%) e Fortaleza (335%).

¿ A periferia do Rio recebe poucos investimentos em infraestrutura, por exemplo. E também é um dos focos de informalidade da região ¿ apontou Osório.

O professor da UFRJ lembra, entretanto, que a Região Metropolitana do Rio vem recebendo uma série de investimentos que podem contribuir para a economia da região e na geração de emprego. E, como o comércio é um dos reflexos da economia, a expectativa é que os números fiquem mais positivos nos próximos anos.

¿ Há vários investimentos ocorrendo, como as obras do PAC, e na construção civil. E, com a economia melhorando, o comércio também avança ¿ concluiu Osório.