Título: Correios miram a internet e querem virar S.A.
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 09/08/2009, Economia, p. 34

Garantido o monopólio nas cartas, ECT planeja modernizar gestão, abrir postos no exterior e melhorar logística

BRASÍLIA. Passado o susto no Supremo Tribunal Federal (STF), do qual obteve na quartafeira a garantia do monopólio no envio e na distribuição de cartas comerciais, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) rapidamente se recompõe para implementar um plano ambicioso de expansão que permita sua sobrevivência como empresa competitiva. Os pontos principais do plano são a adesão à era digital, a internacionalização e o fortalecimento do segmento de encomendas, incluindo o comércio pela internet.

Os Correios também querem se transformar em uma S.A., com um modelo de gestão mais aprimorado.

As alterações precisarão do aval do Congresso, e poderão ser encaminhadas por medida provisória ou projeto de lei. Na defesa das mudanças, o governo argumenta que existem cerca de 2.500 operadores privados nacionais e internacionais que concorrem com os Correios ¿ instituição que completou 40 anos em março ¿ e detêm uma participação de 50% num mercado de R$ 20 bilhões por ano, concentrada nos grandes centros.

Na lista de prioridades, um dos pontos é assumir a impressão dos dados de grandes clientes que emitem boletos, como a Oi. Esta etapa antecederá a expansão e o fortalecimento da rede digital dos Correios. Afinal, reconhece o presidente dos Correios, Carlos Henrique Custódio, no futuro ninguém receberá conta em papel em casa. Com o processo de certificação digital, será tudo por e-mail.

Correios querem concorrer com grandes multinacionais O ministro das Comunicações, Hélio Costa, ao qual a ECT está subordinada, diz que o plano é transformar os Correios num dos maiores provedores de serviços de internet. Boa parte das mudanças tem que passar pelo Congresso, onde vários projetos de lei tramitam neste ramo. A ideia é reuni-los para acelerar as mudanças.

¿ Temos que mudar a Lei Postal, ela é toda acanhada, tem mais de 30 anos, quando nem tinha internet. Ou nos modernizamos ou perdemos o cliente ¿ afirmou Costa.

Um segundo caminho é a permissão para que a ECT atue como um operador internacional, o que eliminaria as restrições hoje existentes de volume (30 quilos). A partir da abertura de postos no exterior, os Correios poderiam concorrer com gigantes multinacionais como FedEx, UPS e DHL ¿ que não por acaso estavam interessadas que o STF deixasse expressamente claro que o segmento de encomendas e transporte de volumes é absolutamente aberto à livre concorrência.

Custódio afirma que os Correios querem ver aprovada a criação de uma subsidiária no setor de logística. A proposta é que a subsidiária seja 51% pública e 49% privada. Também foi estudada a utilização de Parceria Público-Privada para o serviço de transporte aéreo de carga postal. A Rede Postal Noturna (RPN) movimenta, em média, 650 toneladas por ano de cargas.

Em 2008, o custo da estrutura foi de R$ 417 milhões.

¿ As lojas virtuais estão crescendo.

Alguém tem que entregar e o líder natural disto tem que ser os Correios brasileiros ¿ afirmou Custódio, sobre um mercado que deve vender este ano R$ 80 bilhões em mercadorias, segundo Costa.

¿ O governo pretende aumentar em 1.000% o que os Correios já fazem modestamente, o comércio eletrônico ¿ reiterou o ministro.

A organização da ECT como Empresa Pública sob a forma de Sociedade por Ações é outra proposta do grupo de trabalho formado pelos ministérios das Comunicações, da Fazenda e do Planejamento e pela estatal. Serão mantidos 100% do capital com a União.

¿ Não pretendemos abrir o capital, não precisamos captar recursos. Temos R$ 4 bilhões em caixa ¿ explicou o presidente da empresa.

O último ponto da proposta, segundo Custódio, é aperfeiçoar os mecanismos de governança, porque atualmente os Correios não são, por exemplo, obrigados a publicar o seu balanço.

Concorrência reclama da carga de impostos Enquanto os Correios se armam, a concorrência privada está antenada aos detalhes.

A diretora de marketing da DHL Express, Juliana Vasconcelos, lembra que o perfil do comércio pela internet está se modificando.

As empresas têm feito cada vez mais entregas de produtos como eletrônicos e computadores e para a classe C: ¿ São feitas atualmente entregas em áreas de regiões metropolitanas de baixa renda e não estamos falando de livros e CDs, mas de produtos de maior valor agregado. São áreas que não consumiam.

O presidente da Flash Courier e do Sindicato dos Transportadores de Cargas de São Paulo e Região, Antonio Juliani, destaca que o mercado exige um investimento enorme em tecnologia.

E lembra que os Correios têm oportunidades que o setor privado não tem, como isenção de ICMS: a concorrência paga de 12% a 21% de imposto.