Título: Historiador defende fim dos suplentes
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 09/08/2009, O País, p. 9

Cientista político é a favor da redução de atribuições da Casa

SÃO PAULO. Para o historiador Marco Antonio Villa, a crise no Senado é estrutural e, portanto, não justifica a extinção da Casa.

¿ É até natural que se pense assim, mas o que vai acontecer quando tivermos uma crise desta proporção na Câmara? A proposta vai ser a mesma? ¿ perguntou.

De acordo com Villa, esse tipo de reação é resultado da frustração gerada pelos resultados da redemocratização brasileira.

¿ Todo mundo fica muito irritado com o funcionamento dos poderes democráticos.

Ninguém gosta, por exemplo, da morosidade da Justiça. Alguns países têm legislativos com funcionamento melhor, mas isso ocorre há séculos.

Aqui são apenas duas décadas ¿ lembrou ele.

Villa, no entanto, vê um lado positivo na crise: ¿ É extremamente saudável no sentido em que expõe as deficiências.

Villa pede transparência nos dados e atos do Senado Para o historiador, a crise pode levar a reformas estruturais no Senado.

¿ Na verdade precisamos de uma reforma no funcionamento da Casa e não apenas no regimento. A primeira seria acabar com os suplentes, pois a maior parte dos senadores é muito inexpressiva. A segunda é a adoção da transparência nos dados e atos da Casa ¿ afirmou.

Villa lembrou também que a crise tem consumido todo o tempo do Senado.

¿ No primeiro semestre não houve uma discussão política sequer e tudo indica que no segundo também não haverá, mas isso não justifica a extinção. Se o Senado simplesmente cumprisse corretamente com suas funções, como a aprovação de ministros de tribunais superiores, teríamos uma revolução no Brasil.

Nos Estados Unidos, a indicação de uma ministra hispânica para a Suprema Corte mobiliza a opinião pública. Aqui é uma festa em homenagem ao indicado ¿ disse ele.

Professor da PUC-Rio e Ph.D. em Ciências Políticas pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), Amaury de Souza também é contra a adoção do sistema unicameral. No entanto, defende a redução das atribuições do Senado como forma de agilizar o processo legislativo.

¿ Algumas leis ordinárias deveriam tramitar mais brevemente ou o Senado deveria se abster de apreciá-las.

Mas nem o Senado nem a Câmara são melhores do que a população que representam.

Nosso povo é muito despolitizado.

Por isso, a Câmara e o Senado se julgam acima da opinião pública, como já expressaram vários parlamentares que dizem estar ¿se lixando¿ para a população ¿ afirmou Souza.