Título: Lei seca perde força
Autor: Couto, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 08/04/2009, Brasil, p. 09

Estudo sobre hábitos dos brasileiros mostra que índice de pessoas que abusam do álcool antes de dirigir subiu a partir de novembro. Pesquisa indica ainda que número de fumantes caiu e de obesos cresceu

O aumento do número de brasileiros que dirigem depois de consumir bebidas alcoólicas acendeu a luz amarela no governo federal. Mesmo com a lei seca ¿ em vigor desde junho do ano passado ¿, aumentou o percentual de pessoas que admitem ter bebido de forma exagerada e dirigido logo em seguida. Enquanto entre os meses de julho e outubro de 2008 as taxas variaram de 0,9% a 1,3%, em novembro e dezembro os índices voltaram a patamares parecidos aos observados antes da nova legislação, chegando a 2,1% e 2,6%, respectivamente. Em 2009, os percentuais continuaram elevados, tendo alcançado 2,2% em março.

Os dados integram a pesquisa Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico (Vigitel) e deixaram preocupado o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. ¿A lei é muito recente e tem que pegar. A sociedade brasileira precisa dela. O país necessita desesperadamente que a lei seca funcione, porque 17 mil pessoas morrem, a cada ano, por conta dessa relação bebida e direção. São números assustadores. É uma guerra que precisa ser enfrentada com componentes centrais: blitz, multa, apreensão, prisão e conscientização¿, diz o ministro.

O percentual de homens (3%) que afirmam beber e dirigir é 10 vezes maior que o de mulheres (0,3%). A perigosa mistura de álcool com direção é mais comum entre as pessoas de 25 a 34 anos ¿ 4% no sexo masculino e 0,7% no sexo feminino. O estudo constata ainda que essa prática de risco aumenta conforme a escolaridade.

Apesar de estarem na faixa etária que mais abusa do álcool antes de pegar o volante, os amigos Daniela Dias, 32 anos, e Adriano Rezende, 35, costumam adotar alternativas para preservar a vida e evitar a fiscalização. Assessora administrativa, Daniela prefere pegar um táxi para chegar segura à casa. Já Adriano, que estuda para concursos, é adepto da prática do amigo da vez. ¿Costumo beber, em média, oito garrafas toda vez que vou a um bar. Na semana, a prática se repete umas três vezes¿, conta.

Excesso Segundo o estudo, 19% dos brasileiros ingerem álcool de forma excessiva. Esse percentual representa um aumento em relação a anos anteriores. Em 2007, a taxa era de 17,5%, e em 2006, 16,1%. Os homens (29%) consomem quase três vezes mais bebidas do que as mulheres (10,5%).

Mesmo assim, a pesquisa aponta que as mulheres bebem cada vez mais. Ano passado, 10,5% delas exageraram no consumo de álcool, contra 9,3%, em 2007, e 8,1%, em 2006. Mas é entre os jovens que o consumo exagerado é mais evidente. Aproximadamente 30% dos homens e mulheres entre 18 e 44 anos ingerem álcool de forma abusiva.

Baseado em parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS), o levantamento considera consumo excessivo de álcool a ingestão de mais de quatro doses para mulheres e cinco doses para homens em uma mesma ocasião. O Vigitel considera como dose de bebida uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou uma dose de destilados, como uísque e vodca.

¿Se não houver um trabalho mais profundo nas escolas e nos meios de comunicação, dificilmente a fiscalização vai mudar essa tendência. Além disso, é preciso aumentar o efetivo e a estrutura da polícia. Toda a sociedade precisa se envolver na questão do trânsito, pois é muito cômodo transferir a culpa para o poder público¿, defende o inspetor Alexandre Castilho, assessor nacional de comunicação da Polícia Rodoviária Federal.

Campanha A proximidade do período de escoamento da safra agrícola, que eleva a frota de caminhões nas estradas, e o envolvimento de 44% dos veículos pesados em acidentes com morte, levaram os ministérios da Saúde, Justiça e das Cidades a lançarem, ontem, em Brasília, uma campanha de prevenção de acidentes focada nos caminhoneiros. Intitulada Por você e pelos outros, respeite as leis de trânsito, a iniciativa vai destacar os perigos do uso de anfetaminas para reduzir o sono e o cansaço.

Adepto do transporte rodoviário há quase 50 anos, o Brasil sofre com a falta de estrutura das rodovias. ¿Esse problema, associado ao tamanho dos caminhões, potencializam a gravidade dos acidentes envolvendo esses veículos. Apesar de ser uma profissão solitária, o caminhoneiro não deve utilizar drogas para fazer a viagem em menos tempo¿, observa Castilho.

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O número 30% dos brasileiros entre 18 e 44 anos costumam ingerir álcool de forma excessiva, segundo o estudo

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