Título: Oposição quer ouvir Lina Vieira na CPI
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 10/08/2009, O País, p. 4

Ex-secretária da Receita deverá explicar suposta conversa com Dilma sobre Sarney

Gerson Camarotti, Gustavo Paul e Bernardo Mello Franco

BRASÍLIA. A oposição vai insistir na convocação para a CPI da Petrobras da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, para que ela explique as razões de sua demissão, a manobra contábil da Petrobras para pagar menos impostos, e suposta conversa que teve com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Em entrevista à ¿Folha de S. Paulo¿, Lina afirmou que, no final de 2008, Dilma pediu que a investigação sobre as empresas da família Sarney fosse concluída logo. Para ela, isso seria um recado para encerrar a investigação. A assessoria de Dilma negou ontem a existência da conversa.

Para os tucanos, a declaração da ex-secretária justifica a convocação.

Semana passada, o relator da CPI, senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo, conseguiu evitar a votação do requerimento pela convocação de Lina. Caso a oposição não consiga aprovar a inquirição dela, tentará convocá-la para uma comissão permanente do Senado.

¿ É preciso saber o motivo da saída de Lina Vieira e por que ela incomodava tanto o Planalto.

Ela era indispensável para falar sobre o episódio da manobra fiscal da Petrobras. Agora, mais ainda ¿ disse o presidente o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE).

O senador Álvaro Dias (PSDBPR) disse acreditar em Lina e acusou Dilma de ter tentado interferir no trabalho da Receita: ¿ Se ela pediu para agilizar a fiscalização, o objetivo era proteger a família Sarney.

No governo a orientação é barrar a convocação de Lina. Será mantido só o depoimento do atual secretário da Receita, Otacílio Cartaxo, previsto para amanhã.

Para o Planalto, o relato de Lina não merece credibilidade.

¿ A ex-secretária disse que havia um recado para encerrar uma investigação. Mas ninguém pode fazer conjectura sobre um entendimento de outra pessoa ¿ disse o ministro das Relações Institucionais, José Múcio.

¿ Vai ser a palavra da Lina contra a da ministra Dilma. E sobre a denúncia de manobra contábil, também não há justificativa para convocação ¿ disse a líder do governo no Congresso, senadora Ideli Salvatti (PT-SC).

No fim de semana, Mantega admitiu que contribuiu para a demissão de Lina, antecipada pelo GLOBO, a demora da Receita em esclarecer a situação da Petrobras. Segundo ele, só após 10 dias a Receita explicou que não havia condenado a estatal, e isso deu ¿tempo suficiente para criar a CPI¿. O GLOBO tentou ouvir Lina Vieira, sem sucesso.

No contra-ataque, a bancada governista ameaça pedir investigação de repasses da Petrobras no governo Fernando Henrique a ONGs ligadas ao Comunidade Solidária, programa criado pela ex-primeira-dama Ruth Cardoso.

A Petrobras põe em suspeita a execução de quatro projetos patrocinados entre 2000 e 2002, somando R$ 3,34 milhões.