Título: A lição de quem aprende
Autor: Haddad, Fernando
Fonte: O Globo, 11/08/2009, O País, p. 12

Persistência e ânimo são dicas dos que não desistem RIO e BRASÍLIA. Mara Jane, de 19 anos, luta dia e noite para trocar a tesoura e o pente, que usa no minúsculo salão, em Madureira, na Zona Norte do Rio, pelo bisturi. Com o dinheiro que ganha no salão, paga um curso dominical de enfermagem. Sonha com a medicina, enquanto assiste ao método do Telecurso, em sua escola, em Coelho Neto, onde cursa o segundo ano do ensino médio. Depois de ser reprovada por dois anos seguidas, (por ter adoecido e, depois, se mudado para longe da escola), Mara persiste: ¿ O interesse precisa ser da gente. Eu não desisti para não repetir a mesma cena que vejo na minha família. Uns estão por aí, num morro desses por aí, outros não têm estudo, não têm nada. Estou apostando no futuro. Não quero ficar aqui o dia inteiro, com o pé inchado, a mão doendo ¿ diz Mara.

No caminho de Neno Henrique da Cunha Albernaz, de 35 anos, um tiro jogou luz sobre um outro destino. Bom aluno, aos 23 anos cursava engenharia eletrônica na Uerj. Em um assalto, uma bala atravessou sua cabeça e levou embora sua visão. A recuperação física durou seis meses, tempo suficiente para ele se adaptar à nova condição e a mudar também de curso: ciente de que o computador poderia se tornar um aliado, optou pelo curso de Informática da Uerj ¿ por onde se formou com média geral 8,6. Aprendeu a datilografar e hoje ensina deficientes a usarem a tecnologia disponível em seu mestrado, na UFRJ, para aprender.

¿ Se eu quiser ler um livro, eu escaneio e leio pela internet. Eu sempre procurei solução, não problemas. Gravava aulas, pedia ajuda.

Acima de tudo, estou vivo, por isso não fico triste ¿ disse Neno, que acaba de ser chamado para ocupar vaga de analista de sistema na Casa da Moeda, aprovado em concurso.

Em duas semanas, o estudante Weslei Jakson Rocha, de 19 anos, vai realizar um sonho distante para muitos amigos: receber o diploma de conclusão do ensino médio. Morador de um bairro de casas simples no Gama, cidadesatélite de Brasília, ele quase entrou para as estatísticas de evasão escolar no fim de 2007, ao ser reprovado no segundo ano. Por sugestão de uma professora, matriculou-se no método Telecurso e agora, depois de 18 meses, deixará a escola para buscar um lugar ao sol no mercado de trabalho.

¿ Hoje me sinto tão preparado quanto qualquer aluno do ensino regular ¿ diz.