Título: Auxílio à indústria
Autor: Flores, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 08/04/2009, Economia, p. 12

BOLHA GLOBAL

Governo estuda reduzir imposto sobre geladeiras e fogões para incentivar a produção no setor e diminuir o preço das mercadorias. Confederação Nacional da Indústria acredita que o trimestre já está perdido

No mesmo dia em que a indústria brasileira divulgou uma queda recorde de faturamento no primeiro bimestre, previu um trimestre perdido e reconheceu que em 2009 o setor deve registrar retração, o governo admitiu que está estudando conceder benefícios fiscais para a produção de eletrodomésticos. Em reunião com ministros ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutiu a possibilidade de reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre geladeiras, máquinas de lavar e fogões. Setores que agreguem valor à carne, a exemplo dos frigoríficos, também devem ser beneficiados.

A equipe econômica está elaborando estudos para analisar a isenção, que impulsionaria a produção e evitaria demissões. Para tentar convencer governadores e prefeitos, que perderiam receita com o IPI menor, o governo explicará que há a necessidade de combater a crise. Pois, graças à redução do imposto, já aplicado aos veículos e materiais de construção, tem havido preservação de empregos e até recontratação. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, preferiu não confirmar que novas reduções estão em análise. ¿O governo não cogita nenhuma redução neste momento¿, disse o ministro.

A concessão seria uma tentativa de ajudar a indústria brasileira, que vem amargando retrações em função da crise econômica, segundo divulgou ontem a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Nos dois primeiros meses do ano, o faturamento da indústria de transformação brasileira caiu 10,9%, o pior resultado desde o início da série histórica da pesquisa, realizada desde janeiro de 2003.

Em fevereiro, o desempenho ruim se acentuou. As indústrias brasileiras faturaram 10% menos que no mesmo mês do ano passado. Com isso, as horas trabalhadas e o emprego despencaram. O primeiro indicador retraiu 8,4%, a maior desaceleração da história. O nível de ocupação caiu pelo quarto mês consecutivo e o número de trabalhadores ocupados já é 1,5% menor que em fevereiro de 2008. A massa salarial ¿ multiplicação entre o número de ocupados e o rendimento destes trabalhadores ¿ ainda é superior à de fevereiro do ano anterior, mas está se desacelerando. O volume caiu 2,8% em relação a janeiro deste ano e o crescimento sobre fevereiro de 2008 é o menor de um ano para o outro já registrado pela confederação. Com a queda da atividade, a indústria está cada vez mais ociosa. Em fevereiro, o nível de utilização da capacidade instalada foi o mesmo de janeiro: em média, 77,8%, e o segundo mais baixo da história. Em fevereiro de 2008 as indústrias utilizavam, em média, 83,1% de seus parques.

Trimestre Com a conjunção de resultados ruins, o primeiro trimestre já está ¿perdido¿, na avaliação do gerente executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco. De acordo com ele, só é possível pensar em uma recuperação a partir do segundo semestre, mas dificilmente o segmento conseguirá repetir neste ano o faturamento verificado em 2008. ¿Mantido este nível de produção até o fim do ano, 2009 será um ano desastroso¿, prevê. A previsão é que o setor teria que crescer 9,3% de março a dezembro sobre o mesmo período do ano passado para conseguir igualar o nível de faturamento com o do ano passado. ¿É um esforço muito grande¿, avalia o economista da CNI, Marcelo de Ávila. A reação da indústria brasileira, avalia, depende não apenas de políticas de incentivo adotadas pelo governo, como a redução do IPI para o setor automobilístico e a possibilidade de extensão do benefício para os fabricantes de eletrodomésticos.

A desaceleração no faturamento registrada no primeiro bimestre atingiu 15 dos 19 segmentos produtivos pesquisados. Destes, nove tiveram recuo de dois dígitos. Os fabricantes de couro e calçados cresceram 0,4% sobre o mesmo período de 2008. Os de vestuário e confecções, 8,4%. Os fabricantes de outros equipamentos de transporte, como navios, aviões e barcos, venderam 56,1% mais, puxados, de acordo com Castelo Branco, pelas encomendas feitas antes da crise. Os setores que tiveram os piores desempenhos foram os de metalurgia básica (-42,6%), madeira (-23,7%) e borracha e plástico (-22,0%).

Uma prova que a recuperação não está perto é o grau de utilização da capacidade instalada. A média de 2009 é a menor da série histórica. Em 2008 a média anual foi de 82,6%. O menor índice já registrado é 80,7%, em 2006. Dos 19 setores, apenas um, o de outros equipamentos de transporte, teve incremento neste quesito.