Título: Edir Macedo e mais 9 são réus por lavagem de dinheiro
Autor: Barbosa, Adauri Antunes; Freire, Flavio
Fonte: O Globo, 11/08/2009, O País, p. 11

Fundador da Igreja Universal é acusado de chefiar quadrilha que usava empresas de fachada para desviar doações e montar império

Adauri Antunes Barbosa, Flavio Freire, Ricardo Galhardo e Soraya Aggege

SÃO PAULO. O juiz da 9ª Vara Criminal de São Paulo, Glaucio Roberto Brittes de Araújo, aceitou ontem denúncia do Ministério Público Estadual contra o bispo Edir Macedo e outras nove pessoas ligadas à Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd).

Eles são acusados de lavagem de dinheiro desviado da Universal, de maneira reincidente e com organização criminosa, e formação de quadrilha. O dinheiro dos fiéis era repassado a empresas de fachada ligadas à Universal, que mandavam os recursos para paraísos fiscais no exterior. O dinheiro voltava ao país para a compra de empresas de comunicação e outros bens.

Segundo denúncia oferecida pelos promotores Roberto Porto, Everton Zanella, Luiz Henrique Cardoso Dal Poz e Fernanda Narezi Pimentel Rosa, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Edir Macedo seria o chefe de uma quadrilha que usava empresas de fachada para desviar recursos provenientes de doações dos fiéis da Universal e praticar uma série de fraudes.

Apenas em 2004 e 2005, as empresas Unimetro Empreendimentos e Cremo Empreendimentos teriam recebido R$ 71 milhões da Igreja Universal. O dinheiro seria usado em benefício da quadrilha denunciada, o que, em tese, desvirtuaria a finalidade das doações à Universal, que tem isenção de impostos.

Relatório do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) mostrou a existência de contratos atípicos e movimentações de altas quantias de dinheiro incompatíveis com a capacidade econômica dessas empresas ligadas à Universal.

Edir Macedo não aparece nominalmente como sócio das empresas, mas depoimentos e outras provas colhidas ao longo das investigações apontam o fundador e líder da Universal como verdadeiro dono das empresas montadas para lavar o dinheiro recolhido de fiéis.

Além das empresas Unimetro e Cremo, o esquema, segundo as investigações, se utilizava das empresas Investholding Ltda e Cableinvest Ltda, localizadas nos paraísos fiscais Ilhas Cayman e do Canal, para lavar dinheiro desviado da Universal e remetido ao exterior. As empresas tinham como representantes no Brasil Alba Maria da Costa e Osvaldo Sciorilli, que seriam executivos da Igreja Universal e pessoas da confiança de Edir Macedo. Outro esquema utilizaria casas de câmbio com sede no Uruguai. Segundo o Coaf, a Universal tem registros cambiais que chegam a US$ 13 milhões (R$ 23,5 milhões) entre 2003 e 2008.

A malha empresarial criada Empresas de fachada compraram TVs Dinheiro de fiéis financiava negócios dos denunciados pelos promotores por Edir Macedo serviria para financiar empréstimos simulados (contratos de mútuo) que serviram, entre outras coisas, para comprar a TV Record do Rio.

Os promotores teriam apurado que a Universal arrecada cerca de R$ 1,4 bilhão por ano.

Nos últimos sete anos, movimentou cerca de R$ 8 bilhões.

Entre 2003 e 2006, o faturamento da Universal subiu mais de 40%, de R$ 1 bilhão para R$ 1,478 bilhão. A maior parte da movimentação é em dinheiro vivo.

Entre 16 de março de 2003 e 28 de março de 2008, o Coaf registrou 4 mil depósitos em espécie que somam R$ 3,9 bilhões.

O relatório 8/2008 da Diretoria Executiva da Administração Tributária da Secretaria da Fazenda de São Paulo aponta que a Cremo e a Unimetro tinham existência simulada, sendo utilizadas para dissimular atos irregulares.

Documento para fiel é assinado por ¿Jesus Cristo¿ Os integrantes da quadrilha são acusados tanto por obrigar fiéis a fazer doações como por dar aparência legal às transações financeiras do grupo.

Um desses fiéis, que sofre de doença mental, chegou a doar a totalidade de seu salário, fazer empréstimo bancário e vender um terreno por preço irrisório para doar todo o dinheiro à Universal. Em troca, recebeu uma ¿chave do céu¿ e um ¿diploma de dizimista¿ no qual assina como ¿abençoador¿ ninguém menos do que Jesus Cristo.

Macedo também é acusado de usar o nome de laranjas para comprar emissoras de rádio e TV que hoje compõem a Rede Record. Em alguns casos, Macedo teria fraudado procurações assinadas por estes laranjas para, posteriormente, transferir as ações das emissoras para seu próprio nome ou de pessoas acusadas de participar da quadrilha.

Além de Macedo foram denunciados Alba Maria da Costa, Edilson da Conceição Gonzales, Honorilton Gonçalves da Costa, Jerônimo Alves Ferreira, João Batista Ramos da Silva, João Luis Dutra Leite, Mauricio Albuquerque e Silva, Osvaldo Sciorilli e Veríssimo de Jesus.

Aceita a denúncia, todos foram transformados em réus.

O juiz determinou que os réus respondam à acusação, por escrito, num prazo de dez dias. Procurado, o juiz não se pronunciou sobre o caso. O promotor do Gaeco Roberto Porto se recusou a comentar o caso, alegando que corre em segredo de justiça.

Ninguém foi encontrado ontem na Universal para responder às denúncias. Nos locais onde funcionariam a Unimetro e a Cremo não havia quem falasse sobre o caso. A TV Record não quis comentar.