Título: Censura, por favor!
Autor: Éboli, Paulo
Fonte: O Globo, 11/08/2009, Opinião, p. 7

Cheguei à conclusão de que eu prefiro não saber. Saber para quê? A que custo? Vocês já pensaram no mal que faz às pessoas de boa-fé assistir cenas como a do (mais recente) escândalo do Senado? Como é difícil, principalmente na hora do jantar, ver e ouvir o bate-boca de nível baixíssimo entre os nossos digníssimos senadores! Nem tanto pela estupidez do conteúdo das discussões, mas pelo conjunto da coisa, o quadro geral.

Antes deste tipo de transmissão, deveria ser obrigatória uma advertência do Ministério da Saúde, a respeito da insalubridade das cenas que iremos ver. Em mim, e com certeza em muitos de vocês, as consequências são físicas: enjoo, náuseas, ânsia de vômito, dores de cabeça e estômago, acompanhados de uma tremenda irritação que, invariavelmente, me leva a perder o sono, a paz e o sossego. Isso para citar os efeitos mais comuns. Outros, ainda mais graves, devem existir.

Tanto sofrimento para nada.

Esta semana, por exemplo, eu tive o desgosto de presenciar (mais) um teatrinho de terror, onde os senadores Renan Calheiros e Fernando Collor defendiam ardorosamente o presidente do Senado, o Sarney. Dá para acreditar? Cada um dos advogados do acusado tem no currículo seus próprios e cabeludíssimos escândalos, e o mérito (?) de terem saído, felizes, impunes e reeleitos, de todos eles.

E é exatamente isso que mais me agride e me faz adoecer: os caras estão lá, livres, leves, soltos, arrogantes, poderosos, cínicos, viçosos, imunes a qualquer castigo pelos crimes cometidos. E assim vão continuar, depois deste escândalo, e dos outros que ainda virão.

Pois então eu acho melhor não ver, não saber de nada. Por favor, autoridades competentes, censurem meus noticiários, protejam a minha integridade física e mental. De quebra, também vão evitar que a parcela mau-caráter da população ¿ a minoria, eu espero ¿ não use esses fatos como fonte de inspiração para suas próprias falcatruas.

Em resumo, todos se beneficiarão.

Doenças graves e crônicas serão evitadas.

Males seríssimos, como o que o meu clínico geral diagnosticou na minha última consulta, e justificou assim: ¿Sinto muito, meu amigo, o seu organismo não resistiu a tantos anos de Maluf repetindo na televisão que não tem, nem nunca teve, contas no exterior. Seja forte nesse momento.¿ Até que haja Justiça no Brasil, poupemme dos fatos. Censura já!

PAULO ÉBOLI é publicitário.