Título: Vazamento agrava situação de Yeda
Autor: Souza, Carlos
Fonte: O Globo, 11/08/2009, O País, p. 4

Teor de gravações, divulgado na internet, indica que ela se beneficiou de fraude

PORTO ALEGRE. A íntegra da ação por improbidade administrativa ajuizada pelo Ministério Público Federal contra a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), que vazou ontem na internet, mostra que, para os procuradores, Yeda sabia da fraude que desviou R$ 44 milhões do Detran gaúcho e se beneficiou da irregularidade.

Até então, só eram de conhecimento público 40 páginas da petição inicial divulgadas pela OAB-RS no sábado. A juíza do caso, Simone Barbisan Fortes, da 3aVara Federal de Santa Maria, vinha advertindo que interceptações telefônicas, dados bancários, financeiros e fiscais são protegidos por lei e não poderiam ser divulgados.

Com o vazamento das 1.239 páginas da ação, vieram à tona gravações de diálogos entre Lair Ferst ¿ pivô do escândalo do Detran ¿ e Marcelo Cavalcante ¿ representante do governo gaúcho em Brasília, cujo corpo foi encontrado no Lago Paranoá, em fevereiro.

Numa das gravações, Marcelo diz ter entregue à governadora carta redigida por Lair, com denúncias sobre o esquema de desvio de dinheiro do Detran.

Marcelo teria dito à governadora que o desvio era uma ¿situação alarmante¿ que, se fosse descoberto, acabaria com o governo.

¿A senhora tem que dar uma olhada nisso aí com carinho e tomar providência urgente¿, teria dito Marcelo.

Yeda teria dito que tomaria providências enérgicas. Mais adiante, porém, ela teria alegado dificuldade para acabar com o esquema porque havia envolvimento de partidos políticos. Em uma gravação, Lair conta que, numa conversa com Yeda, a governadora teria rejeitado receber apenas R$ 50 mil de propina para manter a fraude. ¿Eu já disse, R$ 50 mil eu não quero. Eu não vou me incomodar dessa maneira aí por R$ 50 mil. Se for pra ganhar só R$ 50 mil eu vou acabar com tudo. Porque, pelo que eu tô sabendo, parece que eles estão recebendo muito dinheiro¿, teria dito Yeda.

O depoimento do ex-presidente do Detran, Sérgio Buchmann ¿ nomeado e exonerado por Yeda e ouvido pelos seis procuradores da República que assinam a ação por improbidade contra a governadora e mais oito pessoas ¿ reforçou para o MP a participação de Yeda no caso. Conforme os procuradores, Buchmann indicou que a governadora sabia da fraude e se beneficiou do esquema. O advogado de Yeda, Fábio Medina Osório, reafirmou que a governadora é inocente.

A juíza Simone negou ontem o pedido de afastamento de Yeda do cargo, feito pelo Ministério Público Federal. Em sua decisão, a juíza concluiu não ser ¿razoável¿ a remoção de Yeda do cargo, diante dos reflexos que a medida causaria à sociedade.

(*) Especial para O GLOBO