Título: O nível continua caindo no Senado
Autor: Vasconcelos, Adriana; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 11/08/2009, O País, p. 3

Collor chama jornalista de mentiroso e salafrário e diz estar "obrando" (defecando) em sua cabeça

BRASÍLIA. Em mais um sinal de que ressuscitou definitivamente o estilo do ¿bateu, levou¿ ¿ o mesmo que adotou durante os dois anos em que exerceu a Presidência da República e deixou o senador Pedro Simon (PMDB-RS) assustado na semana passada ¿, o senador Fernando Collor (PTB-AL) declarou ontem, da tribuna, que está ¿obrando¿ (defecando) na cabeça do jornalista Roberto Pompeu de Toledo, da revista ¿Veja¿.

Esta foi a resposta ao desmentido publicado na coluna semanal do jornalista à acusação feita por Collor de que Toledo teria ido ao gabinete do então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ilmar Galvão, em 1992 ¿ encarregado do processo ¿, e oferecido a capa da revista caso o magistrado condenasse o então presidente da República durante o processo de impeachment.

¿ Eu tenho obrado em sua cabeça nesses últimos dias, venho obrando, obrando, obrando em sua cabeça. Para que alguma graxa possa melhorar seus neurônios. Para ele cair em si e trazer a verdade. Ele é mentiroso e salafrário, alguém que não merece título de jornalista ¿ disparou o senador.

Segundo o dicionário Aurélio, além dos sentidos tradicionais de ¿construir¿ e ¿fabricar¿, obrar é um termo chulo que em algumas regiões do Brasil, especialmente no Nordeste, pode significar ¿defecar¿.

Na sede da ¿Veja¿ em São Paulo e no escritório da revista em Brasília, O GLOBO não conseguiu localizar, no final da tarde de ontem, um editor que pudesse responder às declarações.

Em sua coluna, divulgada no fim de semana, Toledo rebateu acusações de Collor, feitas semana passada, argumentando que tudo não passa de mentira e que jamais teve poder para oferecer a capa da revista a quem quer que seja.

No texto, Toledo disse sete vezes ser mentira a história relatada pelo parlamentar.

Não apenas que teria oferecido a capa da revista como também que teria sido expulso do gabinete do ministro do Supremo. O jornalista ainda alfinetou o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP): ¿Ao contrário de Sarney, não tenho Collor como defensor.

Tenho como acusador. É uma honra¿.

Collor concluiu seu discurso com mais ataques ao jornalista: ¿ Por isso, peço a esse jagodes (homem ordinário, que não merece crédito), Roberto Pompeu de Toledo, que ele, por favor, aproveite essa grande obra que estamos colocando sobre sua cabeça, para que ele raciocine melhor e possa, finalmente, naquela lambuzada página que tenta impingir aos leitores desse hebdomadário (semanário), reconhecer que ele pecou, sim, e que somente a verdade irá libertá-lo.