Título: Salvo pelo feriado
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 08/04/2009, Mundo, p. 18

Sorte, providência divina e intuição são alguns dos fatores que fazem a diferença em uma tragédia. O grego Laountos Eleftherios, de 20 anos, decidiu deixar a região italiana de Abruzzo no sábado passado. ¿Eu preferi vir ficar com a minha família, já que a Páscoa se aproxima¿, contou ao Correio, pela internet, o estudante de educação física, a partir da Ilha de Lipsi, no Mar Egeu. ¿Sou um sortudo. Parti de Áquila um dia antes do terremoto e vivo no centro da cidade, onde a maior parte das casas caiu¿, explicou. Laountos admitiu que não pensa em retornar a Áquila em breve. Ele nega ter medo e justifica sua ação como cautelosa. ¿Nada está a salvo em Áquila. Há um terremoto depois do outro, e é muito perigoso alguém ficar lá.¿

Quem ficou em Áquila reclama de lentidão na resposta à tragédia. De acordo com a Defesa Civil, mais de 10 mil casas e prédios foram danificados. O premiê italiano, Silvio Berlusconi, anunciou a instalação de barracas de campanha para receber 15 mil pessoas, com 16 cozinhas improvisadas. ¿Não nos ofereceram nem café. Ninguém se preocupa com a gente. Passei muito frio¿, queixou-se Giovanni, pai de um bebê de três meses. As autoridades disseram ter distribuído 18 mil refeições quentes para os desabrigados e acomodaram boa parte das pessoas em hotéis, às margens do Mar Adriático.

O estudante Ricardo Tordera Ricchi, de 20 anos, discorda de Giovanni. Ele conta que o pai, dono do banco Carispaq ¿ o maior de Abruzzo ¿, participou de uma reunião da Defesa Civil. ¿Ele me telefonou e disse que amanhã (hoje) quem puder terá de trabalhar¿, afirmou, desde Roma, para onde se mudou ontem. ¿Quando os tremores pararem, as pessoas vão reconstruir a cidade. Talvez Áquila se torne modelo para a Europa¿, acrescentou o rapaz, tentando aliviar a dor de lidar com a morte dos conterrâneos e a destruição de sua terra. (RC)