Título: Macedo teria falsificado documentos para ocultar compra de emissoras
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 12/08/2009, O País, p. 4

Fundador da Universal é apontado pelos promotores como chefe da quadrilha

SÃO PAULO. Uma das linhas de investigação do Ministério Público de São Paulo contra o fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, é a descoberta de que o grupo chefiado pelo bispo ocultaria bens e falsificaria documentos para a compra de emissoras de rádio e TV. Num dos capítulos da denúncia, denominado ¿ocultação de bens pertencentes ao grupo criminoso¿, os promotores apresentaram documentos que provariam uma série de negociações escusas na aquisição da TV Itajaí, em Santa Catarina, e na transferência de ações da rádio Record e das emissoras da TV Record em São Paulo, Franca e Rio Preto.

No documento assinado pelos promotores do Grupo de Ações Especiais contra o Crime Organizado (Gaeco), Macedo é apontado como o chefe da quadrilha. Caberia ao bispo, segundo o MP, a articulação para uso de empresas de fachada, como a Unimetro e a Cremo Empreendimentos, nessas negociações. A Unimetro e a Cremo (...) foram responsáveis pela movimentação, ocultação e dissimulação de R$ 71.361.433,69 somente no período compreendido de janeiro de 2004 a dezembro de 2005, segundo a denúncia.

Um dos alvos do MP foi a negociação para a compra da TV Itajaí, afiliada da Rede Record.

De acordo com as investigações, o bispo teria falsificado documentos para mudar a retransmissora de dono. Inicialmente adquirida por Marcelo Nascente Pires, a TV passou para o nome de um bispo de confiança de Macedo com uso de documento falso, segundo o MP.

Os promotores reuniram provas que Edir Macedo se utilizou de intermediários, conhecidos como laranjas, para ocultar a verdadeira titularidade de seus bens. Segundo a investigação, Pires era bispo de confiança de Macedo e, nesta condição, comprou ações da TV Itajaí com empréstimos financiados pela Cremo.

Diz a denúncia que Marcelo Nascente Pires foi sócio cotista da retransmissora até 2001, quando foi apresentada por Edir Macedo uma procuração inidônea na Junta Comercial de Santa Catarina, com dados que não correspondiam à vontade de Marcelo Pires, inseridos depois que assinou o documento.

A procuração havia sido feita em 19 de setembro de 1996.

Pires aparecia como outorgante e Macedo, outorgado. Através de exame pericial, foi constatado que alguns dados foram inseridos posteriormente e tinha conteúdo diferente do que deveria ser escrito.

Com essa atitude, considerada uma manobra pelo MP, o contrato social da TV Itajaí foi alterado. Marcelo Pires foi excluído e, em seu lugar, entrou Honorilton Gonçalves da Costa, um dos dez integrantes da Universal que desde ontem é réu no processo aberto pela 9aVara Criminal.

O procurador do Ministério Público Federal em Santa Catarina, Marcelo da Mota, ofereceu denúncia em janeiro de 2008 contra Edir Macedo ¿ que não foi aceita pela Justiça Federal em Itajaí. O MP recorreu então ao Tribunal Regional Federal (TRF-4), com sede em Porto Alegre. O processo estaria sob análise do desembargador Tadaaqui Hirose. O GLOBO tentou localizar ontem Marcelo Pires, em Curitiba.

Um de seus apartamentos, no centro, está fechado para locação.

No ano passado, Pires não conseguiu ser eleito deputado estadual pelo PDT.

Segundo os promotores, há indícios de que o mesmo tipo de ação criminosa possa ter ocorrido em outras empresas do grupo. Há no processo cópias de um contrato particular de cessão de direitos celebrado por Odenir Laprovita Vieira e Edir Macedo, na qual Laprovita transfere em caráter ¿irrevogável e irretratável¿ a Macedo todas as ações da rádio Record e das afiliadas da TV Record em São Paulo, Franca e Rio Preto.

Advogado: Receita considerou legal O advogado Arthur Lavigne foi procurado ontem e anteontem pelo GLOBO, mas não atendeu.

No ¿Jornal Nacional¿, da TV Globo, ele, que representa os dez réus ligados à Universal, disse ontem que inúmeros inquéritos contra Macedo já foram arquivados, inclusive no Supremo Tribunal Federal (STF).

¿ A origem disso tudo é 1992, quando foi adquirida, por alguns fiéis da Igreja Universal, a TV Record do Rio de Janeiro. Nessa época houve um empréstimo do exterior para que fosse feita a aquisição ¿ disse, afirmando que a Receita considerou a movimentação financeira legal.

COLABORARAM Ana Paula de Carvalho e Juraci Perboni