Título: Zelaya pede pressão sobre Obama
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 13/08/2009, O Mundo, p. 29

Lula recebe presidente deposto de Honduras e aceita intermediar solicitação aos EUA

BRASÍLIA

A pedido do presidente deposto em Honduras, Manuel Zelaya, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai solicitar a Barack Obama que os EUA aumentem a pressão pela recondução do mandatário exilado à Presidência. Lula e Zelaya tiveram ontem um encontro de quase duas horas no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede provisória do governo brasileiro. O pedido a Obama seria feito nos próximos dias por Lula ou pelo ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, que também participou do encontro.

¿ É preciso que não apenas o presidente Zelaya volte, mas que volte rápido.

É preciso que os golpistas entendam que eles não têm futuro e só quem pode dizer isso a eles são os Estados Unidos ¿ afirmou Amorim.

Há três dias, no México, Obama chamou de hipócritas aqueles que pedem uma atuação mais forte dos EUA no caso e, ao mesmo tempo, reclamam da interferência americana.

¿ Os mesmos críticos que dizem que os EUA não intervêm o suficiente em Honduras são aqueles que dizem que estamos sempre intervindo e que os ianques precisam sair da América Latina ¿ disse Obama.

Zelaya defende que os EUA adotem restrições comerciais contra o governo de Roberto Micheletti e, com isso, inviabilizem a permanência do grupo golpista no poder. Segundo Zelaya, 70% da economia de Honduras dependem de exportações para os EUA.

Depois do encontro com Lula, Zelaya participou, ao lado do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de uma sessão da instituição, onde recebeu apoio de todos os partidos.

Confronto em Tegucigalpa

No início da homenagem, Sarney disse que é inaceitável a interrupção de qualquer processo democrático.

Aparentemente surpreso com o apoio dos senadores, Zelaya quebrou o protocolo, sentou-se à Mesa e fez um discurso em que denunciou supostos abusos do governo de Micheletti. Segundo ele, mais de mil pessoas teriam sido presas por motivos políticos desde a sua deposição, em 28 de junho.

O presidente deposto embarca ainda hoje para o Chile para se encontrar com a presidente Michelle Bachelet e, nos próximos dias, também pode se reunir com a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton. Antes do encontro com Lula, Zelaya pediu a auxiliares que investiguem se o embaixador de Honduras no Brasil, Victor Manuel Lozano, teve problemas cardíacos no início da semana. A equipe do presidente suspeita que a suposta doença teria sido uma farsa para evitar um encontro entre Zelaya e Lozano, que teria aderido ao governo golpista.

Milhares de seguidores de Zelaya voltaram ontem a entrar em choque com a polícia no segundo dia consecutivo de protestos violentos que já deixaram, em 48 horas, um saldo de pelo menos mais 47 presos. Os enfrentamentos de ontem começaram depois que alguns manifestantes cercaram o vice-presidente do Congresso, Ramón Velázquez, na saída de seu gabinete e o agrediram com socos e chutes. A polícia dispersou a multidão nos arredores do centro de Tegucigalpa com gás lacrimogêneo e houve correria e confusão, com manifestantes lançando pedras nos policiais. Parte do comércio já amanhecera ontem de portas fechadas, mas vitrines voltaram a ser alvo de pedras. Na véspera, um restaurante fast-food da rede americana Popeye¿s e um ônibus foram queimados.

Os protestos se intensificaram depois que 14 mil pessoas, segundo organizadores, chegaram a Tegucigalpa e a San Pedro Sula, ao fim de uma semana caminhando 15 quilômetros por dia em duas grandes marchas. O governo restituiu o toque de recolher entre 22h e 5h

Com agências internacionais