Título: Bom desempenho na CPI ajudou e Cartaxo será efetivado na Receita
Autor: Beck, Martha; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 14/08/2009, Economia, p. 25

Valdir Simão, já escolhido para o cargo, não teria autonomia para comandar

Martha Beck, Geralda Doca e Lino Rodrigues

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A forte resistência do comando da Receita Federal ao nome do presidente do INSS, Valdir Simão, levou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a confirmar Otacílio Cartaxo no cargo de secretário do Fisco. Lina Vieira foi demitida da Receita no dia 15 de julho.

O presidente do INSS chegou a ser sondado para assumir o Fisco, mas recusou o cargo porque não teria liberdade para montar a própria equipe. Segundo interlocutores, na avaliação dele, vários superintendentes levados aos postos por Lina teriam que ser substituídos por gerentes mais engajados com meta de arrecadação e fiscalização.

¿ Há muito discurso e pouca ação ¿ disse ele recentemente a uma fonte.

No entanto, o grupo que chegou ao comando do Fisco com Lina, há pouco mais de um ano, se articulou para não perder poder e pressionou o ministro da Fazenda para que o substituto não fosse alguém da gestão anterior (ligado a Jorge Rachid) nem viesse da Previdência Social.

As exigências chegaram ao ponto de boa parte dos superintendentes das dez regiões fiscais ¿ sete dos quais indicados por Lina ¿ ameaçarem deixar o cargo caso o substituto de Lina não atendesse ao perfil esperado.

Para acalmar os ânimos, Mantega decidiu nomear Cartaxo interinamente e procurar um secretário da Receita com mais tranquilidade. O problema foi encontrar alguém que se enquadrasse nas exigências e ainda aceitasse trabalhar subordinado ao secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Machado ¿ verdadeiro comandante do Fisco na equipe de Mantega.

Cartaxo se saiu bem no cargo durante sua interinidade.

Além de manter o projeto de Machado para a secretaria, ele teve um desempenho considerado adequado por Mantega na CPI da Petrobras, na última terça-feira. O secretário disse aos parlamentares que a legislação tributária é omissa em relação à manobra usada pela estatal para elevar suas compensações de impostos.

Isso foi um sinal positivo para inocentar a Petrobras da acusação de cometer irregularidades, apesar de a Receita já ter divulgado anteriormente uma nota oficial, chancelada pelo gabinete da então secretária Lina, que reprova a forma como a estatal atuou.

¿ Cartaxo se cacifou dentro da CPI. Ao falar da Petrobras não queimou o governo e não procurou se sobressair politicamente ali. Fez o papel que o governo esperava que o secretário da Receita fizesse ¿ concorda o presidente do Sindicato Nacional dos Auditores (Unafisco), Pedro de la Rue.

¿ Ele é funcionário há muito tempo e percorreu todos os degraus da carreira. É um homem muito capacitado, um técnico muito competente. Estou satisfeito com o seu trabalho e por isso o estou efetivando no cargo ¿ disse Mantega, pouco antes de participar de evento com empresários à noite, em São Paulo.