Título: Uribe aceita ir a reunião da Unasul sobre bases
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Fonte: O Globo, 14/08/2009, O Mundo, p. 26

Presidentes se encontrarão em Bariloche dia 28. Mas até lá acordo com EUA já deve estar assinado

BOGOTÁ

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, concordou ontem em participar de uma reunião extraordinária da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) para discutir a possível utilização, por parte de militares americanos, de bases colombianas. A reunião ocorrerá no dia 28 de agosto em Bariloche, na Argentina, e, segundo o governo colombiano, contará com a presença de presidentes de 12 países.

Uribe não participou da reunião ordinária da Unasul ocorrida semana passada na capital do Equador, Quito, preferindo, em vez disso, fazer um périplo por sete países sul-americanos nos dias anteriores para defender um possível acordo com os EUA em relação às bases. Os presidentes de Venezuela, Hugo Chávez, e Equador, Rafael Correa, buscaram uma condenação da Colômbia, mas os demais chefes de Estado não aceitaram.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um dos que pediram moderação, chegou a propor a presença do presidente dos EUA, Barack Obama, numa futura reunião para discutir as bases.

Ontem o governo americano não se pronunciou sobre o assunto.

¿A reunião não implica uma condição para o acordo entre Colômbia e Estados Unidos¿, afirmou, em nota, o Ministério das Relações Exteriores da Colômbia, ontem, garantindo que os temas propostos pelo país para a reunião de Quito semana passada ¿ o armamentismo na região, o tráfico de armas e o terrorismo ¿ farão parte do encontro de Bariloche.

O acordo para que a reunião ocorresse foi firmado num telefonema entre Uribe e a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anteontem à tarde. Ontem, o governo do Equador confirmou o cancelamento de uma reunião de chanceleres e ministros da Defesa da Unasul, que ocorreria em Quito no dia 24 de agosto, alegando que a reunião com os presidentes teria precedência.

Se a intenção dos demais chefes de Estado é evitar que militares americanos passem a usar as sete bases colombianas, a reunião do dia 28 pode ocorrer tarde demais. Ontem, representantes dos ministérios da Defesa, do Exterior e do Interior da Colômbia estavam em Washington, aparentemente acertando os últimos detalhes para a assinatura do polêmico acordo.

¿ Se Deus nos ajudar, tudo será fechado este fim de semana ¿ disse o comandantes das Forças Armadas da Colômbia, o general Freddy Padilla.

O general Padilla e o ministro da Defesa colombiano, Gabriel Silva, reuniram-se ontem com senadores do país para explicar como seria o acordo militar.

De acordo com o comandante da Força Aérea da Colômbia, o general Jorge Ballesteros, aviões de guerra americanos não utilizarão as bases colombianas, uma das principais preocupações de vários presidentes sul-americanos. Ballesteros também disse que o país não será usado para o trânsito de soldados dos Estados Unidos.

Presidente nega-se a negociar com Farc

Uribe recebeu ontem em Bogotá o presidente do México, Felipe Calderón, que se ofereceu para mediar uma aproximação entre a Colômbia e os vizinhos Equador e Venezuela.

¿ Estamos dispostos a oferecer nossa mediação se houver a vontade das partes ¿ disse Calderón.

O mexicano afirmou que poderia servir para uma aproximação por ocupar a presidência rotativa do Grupo do Rio.

O presidente colombiano, por sua vez, recusou-se a entabular negociações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Foi uma resposta a uma entrevista publicada ontem pela revista colombiana ¿Cambio¿, na qual o líder do grupo guerrilheiro, Alfonso Cano, afirma estar disposto a ¿uma saída política¿ para o conflito.

¿ Nós não podemos converter os criminosos em interlocutores legítimos.

Esse bandido (Alfonso Cano) já está há 40 anos enganando a Colômbia.

Esse bandido fala de diálogo, quando o que faz é ordenar assassinatos ¿ disse Uribe. ¿ Esses bandidos passarão de seus esconderijos do crime e de seu protagonismo midiático para a prisão.