Título: Compras de até R$ 25,6 milhões em imóveis
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 14/08/2009, O País, p. 10

Relatório do Coaf anexado à ação contra cúpula da Universal detalha investimento em casas e terrenos pelo país

Flávio Freire

SÃO PAULO. Paralelamente à investigação sobre o uso de doações de fiéis para abastecer empresas ligadas à Igreja Universal do Reino de Deus, o Ministério Público de São Paulo investiga também a apropriação do dinheiro arrecadado em cultos da Universal para a compra de imóveis. O relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) aponta que, entre 1996 e 2007, a Rádio e TV Record movimentou R$ 25,6 milhões para comprar edifícios, terrenos e casas.

Com base no documento do Conselho, o MP trabalha com a negociação direta de cinco imóveis, mas promotores do Grupo de Ação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) acreditam que centenas de imóveis tenham sido adquiridos pelo grupo ¿ a maior parte em nome de laranjas.

O MP já começou um cruzamento de dados para descobrir se os líderes da Universal envolvidos no esquema de corrupção estariam colocando imóveis em nome de fiéis que já morreram.

O relatório do Coaf, que ocupa um dos quatro volumes do processo por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, revela que só no Rio dois terrenos foram comprados pela Universal com preços elevados. Em 14 de outubro de 2006, a Universal pagou R$ 8,488 milhões por um deles. O outro custou R$ 1,712 milhão.

Não há menção à localização desses imóveis no documento do Coaf. Uma das primeiras transações comerciais feitas pela Universal foi a aquisição de prédio em Salvador, em 28 de junho de 1999. O edifício foi comprado por R$ 8 milhões.

Meses depois, a igreja adquiriu em São Paulo mais dois imóveis: uma mansão por R$ R$ 3,22 milhões e um terreno por R$ 4,22 milhões.

Pedido de colaboração foi enviado aos Estados Unidos A embaixada dos Estados Unidos em Brasília confirmou ontem que as autoridades brasileiras fizeram um pedido de colaboração na investigação do caso da Igreja Universal. O Ministério Público Federal está conduzindo uma varredura na movimentação milionária de líderes da entidade no exterior, inclusive com envolvimento de empresas acusadas de lavagem de dinheiro nos EUA. A embaixada afirmou que não pode detalhar ou dar mais informações.

Na denúncia aceita pela Justiça, os promotores informaram: ¿Há nos autos provas de que o denunciado Edir Macedo se utilizou de intermediários, conhecidos como `laranjas¿, para ocultar a verdadeira titularidade de seus bens¿. O MP, no entanto, reforça que Macedo não agiria sozinho.

¿A fim de ocultar e dissimular a origem do dinheiro arrecadado junto aos fiéis, mediante atos fraudulentos, para investi-lo em empresas que visavam ao lucro, Edir contava com o apoio de inúmeras pessoas que integravam a quadrilha.¿ Além de Macedo, outros nove integrantes da Universal foram denunciados: Alba Maria da Costa, Edilson da Conceição Gonzales, Honorilton Gonçalves da Costa, Jerônimo Alves Ferreira, João Batista Ramos da Silva, João luiz Dutra leite, Maurício Albuquerque e Silva, Osvaldo Sciorilli e Veríssimo de Jesus.

Em sua decisão, o juiz Glaucio Roberto Brittes de Araújo concluiu: ¿Há suficientes elementos de materialidade e indícios da participação de cada um dos réus nas infrações imputadas para recebimento da denúncia¿.