Título: O felicitômetro dos ricos
Autor:
Fonte: O Globo, 16/08/2009, Economia, p. 31

Belíndia foi crítica ao modelo de Delfim

"Era uma vez um reino situado num longíquo rincão a meio caminho entre o Ocidente e o Oriente, denominado Belíndia", assim começa o célebre artigo, escrito em forma de fábula, que cunhou o termo que viraria sinônimo da enorme disparidade de renda do Brasil. Escrito em 1974, "O Rei da Belíndia" narra a história de um fictício país, onde a economia cresce a taxas expressivas, mas os pobres continuam pobres. Era uma crítica direta ao milagre econômico do ministro Delfim Netto.

Não por acaso, o personagem principal da fábula era Antônio (primeiro nome de Delfim), que simbolizava os moradores ricos da Belíndia. Outros cinco personagens representavam os pobres: Celso (referência ao economista Celso Furtado), Conceição (a economista Maria da Conceição Tavares), Fernando (o então sociólogo e hoje ex-presidente Fernando Henrique Cardoso), Francisco (o sociólogo Chico de Oliveira) e Paulo (o economista Paul Singer) - todos membros do Cebrap, o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, fundado em 1969 por um grupo de professores universitários, alguns dos quais afastados pela ditadura militar.

- A Belíndia era uma crítica a esse modelo de crescimento que deixava os pobres para trás. Você media o crescimento pelo PIB, mas o PIB, como a fábula dizia, era um "felicitômetro dos ricos". A economia crescia muito, mas a situação dos pobres era cada vez pior - conta Bacha. (L.R.)