Título: Indústria se espalha pelo país e serviços ganham peso na economia
Autor: Almeida, Cássia; Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 16/08/2009, Economia, p. 28

Setor financeiro cresceu com a inflação e chegou a representar 32% do PIB

RIO e RECIFE. A economia brasileira mudou radicalmente nesses 40 anos. É outro país, movido pelos serviços, que representam atualmente 65% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), numa característica de países desenvolvidos. E a indústria cresceu, modernizou-se e se espalhou pelo país, impulsionada pelos subsídios.

Antes restrita a São Paulo, a indústria posteriormente começou a montar suas bases em Minas Gerais, principalmente no setor automotivo, em busca da matéria-prima das siderúrgicas e mineradoras locais. O Nordeste, por sua vez, recebeu primeiramente a indústria têxtil e de alimentos, intensivas em mão de obra, que buscavam baixar custos. A região depois ganhou até indústria automobilística, antes concentrada no ABC paulista. Em 2001, a Ford abriu fábrica em Camaçari, na Bahia, em busca de isenções fiscais.

A agricultura mudou completamente, diz Eustáquio Reis, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O nascimento da Embrapa, em 1973, aumentou a produtividade do campo. A soja começou a tomar o lugar do café no Sul do país e, com a tecnologia da Embrapa, alcançou o cerrado, ainda virgem nos anos 70. A pecuária invadiu o Centro-Oeste, tornando o Brasil o maior exportador de carne bovina do mundo. Tanto assim que a região dobrou sua participação no PIB de 1985 até 2006.

Os serviços tiveram dois momentos de expansão. O primeiro veio com o setor financeiro. A inflação alta, que levava a classe média a se proteger das altas dos preços por meio de produtos financeiros, provocou uma expansão do setor sem precedentes, inclusive com abertura de agências pelo Brasil afora. O setor chegou a representar 32% do PIB em 1993. Atualmente está um pouco acima dos 4,63% de 1969. Depois do fim da inflação e do saneamento do setor financeiro após o Plano Real, os bancos passaram a representar 6,71%.

O segundo momento de expansão dos serviços veio com a privatização da telefonia. Hoje, o número de celulares ultrapassa o da população.

- Mas a indústria ainda é o motor da economia, inclusive para os serviços - diz Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais do IBGE.

Ele lembra ainda a mudança estrutural mais recente da economia brasileira.

- O crescimento da renda, as transferências governamentais, como o Bolsa Família, e a valorização do salário mínimo fizeram crescer os serviços oferecidos às famílias. Assim, o mercado interno começou a ditar o movimento da economia, num fenômeno da última década - descreve Olinto.

A Baterias Moura é um exemplo da diversificação da economia brasileira, com o avanço da indústria para diferentes regiões do país. Em 1957, o jovem químico industrial Edson Mororó Moura, alheio ainda às mudanças estruturais que estavam por vir na economia, acreditou que era possível ter indústria no Nordeste e instalou, no fundo do quintal de sua casa, uma fábrica artesanal de baterias.

Baterias Moura, uma história que começou nos anos 60

Uma ousadia para a cidade de Belo Jardim, do agreste pernambucano, na época movida a lombo de jumento e carro de boi, e onde só havia um automóvel circulando. Em 2009, pouco antes de morrer, o empresário, então presidente da Baterias Moura, perguntou aos herdeiros: "Já somos a maior fábrica de baterias do mundo?"

- Hoje somos líderes na América Latina. É a Moura que equipa 50% dos carros produzidos no Brasil e responde por 34% do mercado de montadoras na Argentina - diz Paulo Sales, filho de Edson e co-presidente da companhia.