Título: Mansão de R$ 4 milhões, negócio dobrado
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 16/08/2009, O País, p. 14

Universal usa casa de 18 suítes em Campos do Jordão, frequentada por Macedo, para pegar empréstimo de R$8 milhões

A CASA de quatro andares e elevador panorâmico na Vila Inglesa, em Campos do Jordão, registrada em nome da Universal: quase 4 mil m² de área construída em terreno de 12 mil m²

O JARDIM da mansão, construída por fiéis da Universal, que pegou financiamento para obter ¿capital de giro¿

Ricardo Galhardo

CAMPOS DO JORDÃO, SP. Réu em ação penal por lavagem de dinheiro, o bispo Edir Macedo desfruta de uma mansão de quatro andares, 18 suítes e elevador panorâmico na estância turística de Campos do Jordão. O palacete com 3,9 mil metros quadrados de área construída fica num terreno de 12 mil metros quadrados. Foi avaliado em cerca de R$4 milhões e construído por operários que são também fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus.

Conhecido em Campos do Jordão como a ¿mansão do Edir Macedo¿, o imóvel está registrado no Cartório de Registro de Imóveis local em nome da Igreja Universal e foi alienado como garantia de um empréstimo de R$8,2 milhões feito junto ao Bradesco em 2007. Embora o beneficiário do empréstimo seja a própria igreja, o objetivo do financiamento é obter ¿capital de giro¿, segundo certidão registrada no Cartório de Registro de Imóveis de Campos do Jordão.

A Igreja Universal goza de imunidade fiscal para, segundo a lei, poder investir todo o dinheiro arrecadado junto aos fiéis em obras assistenciais e manutenção dos templos. De acordo com o Ministério Público de São Paulo, Edir Macedo e outras nove pessoas ligadas à Universal desviaram dinheiro da igreja para engordar seus patrimônios pessoais, o que contrariaria a lei de imunidade fiscal. Segundo o MP, a Universal arrecada R$1,4 bilhão ao ano.

¿ É uma das casas mais imponentes de Campos, um verdadeiro palácio ¿ disse um corretor de imóveis.

Bispo promove jogos de futebol

O imóvel, na verdade, é constituído de duas casas no topo de um morro no Alto da Vila dos Ingleses, com deslumbrante vista para a Serra da Mantiqueira. A maior das casas, com telhados triangulares imitando o estilo alpino europeu, tem quatro andares, vitrais desenhados com folhas de parreira e cachos de uva, elevador panorâmico, 18 suítes e cerca de 100 metros de frente num terreno que vai de um lado a outro do quarteirão. São 2,7 mil metros quadrados de área construída, segundo a Secretaria de Planejamento de Campos do Jordão. Nos fundos, os muros e a entrada de veículos são feitas de pedras.

A casa principal é rodeada por jardins bem cuidados, com flores, grama impecavelmente cortada, palmeiras tropicais e pinheiros europeus. Ao lado do jardim, um campo de futebol iluminado e cercado por alambrados. O zelo pela segurança chama a atenção. Seis câmeras filmadoras, duas com alcance de 360 graus, vigiam todos os lados da mansão. Segundo a vizinhança, pelo menos quatro homens se revezam na segurança da casa, que teria ainda duas outras empregadas. A segunda casa, no mesmo terreno, tem 1,2 mil m² de área construída, segundo a prefeitura. A área total dos dois terrenos é de 12 mil m².

De acordo com vizinhos, o bispo é visto esporadicamente no local e costuma ser discreto, a não ser quando promove partidas de futebol. Todos os operários que trabalharam na obra, de acordo com vizinhos e corretores imobiliários, foram fiéis da Igreja levados de outras cidades.

Quinta-feira à tarde era possível ouvir a movimentação de pessoas no interior do imóvel, mas ninguém atendeu o interfone. Corretores imobiliários disseram que imóvel vale entre R$3,5 milhões e R$4,5 milhões. No contrato de empréstimo com o Bradesco, as duas casas foram avaliadas em R$3 milhões.

Na denúncia que originou o processo contra Edir Macedo e outras nove pessoas ligadas à Universal, o Ministério Público de São Paulo sustenta que a cúpula da igreja desviou o dinheiro doado pelos fiéis, já que, segundo a lei, entidades religiosas têm imunidade fiscal justamente para poderem investir todos os recursos arrecadados junto aos fiéis em obras sociais ou na manutenção dos templos.

Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) anexado ao processo afirma que a Universal usou dinheiro de fiéis para comprar imóveis.

O advogado Arthur Lavigne, que, segundo a assessoria da Universal é o único autorizado a falar com a imprensa em nome da igreja, foi procurado por telefone pelo GLOBO, mas não retornou.