Título: Denúncias em série na carreira do ex-vendedor
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 16/08/2009, O País, p. 12

"Nunca fui condenado a nada", diz senador, munido de certidões

BRASÍLIA.Nos nove anos que passou como deputado e presidente da Câmara Distrital de Brasília, Gim Argello construiu um currículo recheado de denúncias e envolvimento em variados crimes, principalmente na área fundiária, o que lhe rendeu também o apelido de "Gim das terras". Até agora vem escapando ileso das denúncias.

Na CPI da Grilagem da Câmara Distrital, foi acusado, em gravação de conversa dos deputados Odilon Aires e José Edmar, de ter recebido 300 lotes para ajudar na regularização de um condomínio. Mesmo com a gravação , os dois deputados negaram e Gim escapou de ser indiciado no relatório final.

No Supremo Tribunal Federal, enfrenta inquérito de quase duas mil páginas, que tramita em segredo de Justiça, e trata de apropriação indébita, peculato, corrupção passiva e lavagem ou ocultação de bens, direitos ou valores. O Tribunal de Contas da União investiga indício de sua participação, como presidente da Câmara Distrital, em licitação superfaturada para locação de equipamentos de informática.

Gim apresenta certidões negativas da Justiça para mostrar que nunca foi condenado:

- Só tem um inquérito no STF, de 2002, que não acaba nunca. Nunca fui condenado a nada. As pessoas misturam alhos com bugalhos. Essa onda de denúncias é o chamado efeito manada.

"Como virei senador? Deus encurtou o caminho"

Gim nega que tenha ajudado a tirar Roriz do Senado. O titular, comprometido em operação da Polícia Federal sobre esquema de desvio de recursos do Banco de Brasília (BRB), no início do mandato, queria que Gim renunciasse para forçar nova eleição. Mas ele não aceitou. Roriz renunciou para não ser cassado.

- Não cheguei aqui de carona. Tenho história de luta política. Queria ser senador. Para disputar sozinho, não tinha chance. Roriz me chamou e fui ser seu suplente. Veio o problema do BRB. Como virei senador? Foi por Deus. Deus encurtou o caminho.

Filho de pai português, Gim nasceu no interior de São Paulo, mas cresceu em Taguatinga (DF). O pai abandonou-os quando Gim tinha 16. Virou arrimo de família. Aos 20 anos, uma guinada. Vendia carros e deu a sorte de vender um Landau para o então todo-poderoso ministro do Interior, Mario Andreazza, de quem não desgrudou mais. O ministro o orientou a entrar para a Frente Liberal, mais tarde PFL. Foi depois para o PTB e presidiu a Câmara Distrital.

Gim já deixou a casa de subúrbio de Taguatinga. Mora numa mansão na sofisticada vizinhança da Península dos Ministros. Pertinho da residência da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de quem se diz grande amigo.

O Tribunal Superior Eleitoral aguarda documentos do TRE-DF para pôr em pauta pedido de cassação da chapa de Roriz.