Título: Direção da Petrobras orienta governistas na CPI
Autor: Franco, Bernardo Mello; Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 16/08/2009, O País, p. 11

Presidente da estatal passou a ficar mais em Brasília e faz reuniões com aliados para armar a defesa na comissão

BRASÍLIA. Apesar de estar na condição de investigada, a Petrobras montou um aparato para tentar ditar os rumos da CPI no Senado que apura denúncias contra a estatal. Nos bastidores, seus dirigentes têm instruído cada passo da bancada governista, em reuniões técnicas e políticas que envolvem até o presidente da companhia, José Sérgio Gabrielli. A estratégia para depoimentos e votações é definida em encontros às segundas-feiras. A estatal tem orientado os senadores a acelerar os trabalhos, limitar o foco da investigação e barrar ofensivas da oposição.

Segundo a Petrobras, cerca de 40 funcionários foram recrutados em diferentes setores da companhia para se dedicar exclusivamente à CPI. A estatal já pagou R$1,08 milhão à empresa Companhia da Notícia, que foi contratada sem licitação, a título de assessoria emergencial. A articulação política é conduzida pessoalmente por Gabrielli, que passou a deixar a sede da empresa dois dias por semana para despachar em Brasília.

Na última terça, o presidente da estatal encerrou o expediente na capital federal com um jantar na casa do líder do PTB, Gim Argello (DF). Estavam na mesa o relator da CPI, Romero Jucá (PMDB-RR), e o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL). O quinto comensal era o presidente da BR Distribuidora, José Eduardo Dutra, que tem usado as credenciais de ex-senador para acompanhar as sessões da CPI entre os aliados, no plenário da comissão.

Ex-diretor da estatal, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) afirma que a parceria entre Petrobras e aliados tem deixado a oposição com pouca margem de manobra.

- A mesa diretora da CPI está bem preparada e organizada. Faz reuniões prévias, organiza a pauta e restringe o trabalho às questões que levaram à criação da comissão. A Petrobras, nesse processo, tem sido muito pro-ativa - diz o petista.

Relatoria ficou com líder do governo no Senado

A preocupação em manter a CPI sob rédea curta motivou a entrega da relatoria ao líder do governo no Senado, num acúmulo de funções incomum no Senado. Jucá é só elogios para a participação de Gabrielli nas reuniões fechadas.

- Ele tem sido muito colaborativo, assim como o resto da diretoria. A Petrobras era uma empresa distante do Congresso. Agora eles sabem que precisam criar pontes - afirma.

O entrosamento entre senadores e dirigentes da estatal passou no primeiro teste semana passada, no depoimento do secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo. Durante a sessão, três integrantes da CPI repetiram, quase ao pé da letra, as justificativas que a estatal tem dado para a manobra contábil que reduziu em R$4 bilhões o recolhimento de impostos da Petrobras no ano passado.

Num sinal de que a sintonia tem funcionado em tempo real, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) praticamente recitou um argumento publicado minutos antes na página da empresa no Twitter. Enquanto os governistas demonstravam familiaridade com a legislação fiscal, os opositores ficaram restritos a acusações já conhecidas.

- A Petrobras está preocupada com a CPI, e nós sabemos que a oposição fará tudo para atingir a ministra Dilma Rousseff. Não tem ninguém brincando - resume um senador que tem participado de todas as reuniões.