Título: Em Minas, vice sai da sombra de Aécio para tentar ser seu sucessor
Autor: Fabrini, Fábio
Fonte: O Globo, 16/08/2009, O País, p. 4

Com função central no governo tucano, Anastasia agora adota agenda política

ANASTASIA: fama de dar broncas em quem não atinge os objetivos

BELO HORIZONTE. A capital mineira tem 799 sinais de trânsito, mas avançar o da esquina das ruas Santa Catarina e Alvarenga Peixoto é multa certa. É onde mora o vice-governador, Antônio Augusto Anastasia, e os policiais militares que fazem sua segurança impõem um "choque de ordem" no quarteirão.

- Ninguém fura sinal vermelho porque multam; nem estaciona errado, porque mandam tirar - conta um vizinho.

Anastasia sempre viveu à sombra do governador Aécio Neves. Seu papel era fazer funcionar a máquina do estado. Agora, está diante dos holofotes: o tucano decidiu fazer dele seu sucessor.

Conceituado professor universitário que fez carreira no serviço público, Anastasia, de 48 anos, nunca foi político profissional. Só em 2005 se filiou a um partido, o PSDB, para entrar na chapa de reeleição de Aécio. Nos bastidores, a conversa é que foi picado pela mosca azul, e incorporou a rotina de pré-candidato. Viaja interior afora inaugurando obras, lançando projetos, entregando títulos agrários, conversando com prefeitos e fazendo palestras.

O páreo é acirrado. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, tenta viabilizar candidatura pelo PMDB; o do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel tentam sair pelo PT. Os três têm mais experiência e capital eleitoral, mas Anastasia terá a máquina do estado, além de um eleitor de peso: Aécio, que em abril deixa o cargo para disputar a Presidência ou o Senado, tem ampla aceitação no estado.

- Anastasia é o plano A, e até agora não apareceu o B - diz um deputado federal tucano, comentando que o senador Eduardo Azeredo (PSDB), com bom desempenho nas pesquisas, se desgastou nas denúncias do mensalão. - Anastasia é o queridinho do Aécio, e o resto fica para um bom marqueteiro.

Fã de livros e perfumes

Com facilidade para falar em público, fruto da prática como professor da UFMG, Anastasia não tem o carisma das raposas políticas e ainda se incomoda com flashes. A fama de político moderno e bom gestor é o trunfo do grupo que quer lançá-lo.

- Ninguém ganha mais eleição subindo em caminhão e fazendo discurso inflamado, mas na racionalidade - diz o ex-ministro Paulo Paiva (PTB).

Quando o conheceu, como advogado da Fundação de Desenvolvimento e Pesquisa da UFMG, nos anos 80, Paiva achou Anastasia arrogante. Em 88, encontrou-se com ele como assessor da relatoria da Assembleia Constituinte Mineira e disse que se impressionou com a inteligência. Anos depois, convidou-o para adjunto na Secretaria de Planejamento do governo Hélio Garcia (1991-95) e, em seguida, o levou para uma jornada de sete anos como secretário-executivo dos ministérios do Trabalho e da Justiça na era FH. Hoje presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas, Paiva recebe ordens do amigo quarentão, solteiro, amante de livros, música clássica e perfumes:

- Em missão federal em Miami nos anos FH, entrou numa loja de cosméticos e saiu com a sacolinha cheia - lembra um alto funcionário do governo federal que conviveu com Anastasia.

Aécio laçou o professor na UFMG, em 2002, para montar seu programa de governo. Fez dele secretário de Planejamento e cérebro de sua gestão. Coube ao intelectual, um dos maiores especialistas em direito administrativo do país, implantar o choque de gestão, programa de enxugamento de quadros e que trocou benefícios do funcionalismo por prêmios de produtividade típicos da iniciativa privada.

Nas palavras do governo, o esforço reequilibrou as contas públicas. Nas dos sindicalistas, foi a tragédia do trabalhador.

- Não teve choque de gestão, teve cassação de direitos - diz o presidente do Sindicato dos Auditores Fiscais (Sindifisco) de Minas, Matias Faria.

No primeiro governo de Aécio, Anastasia acumulou temporariamente a Secretaria de Defesa Social. Mandava em coronéis da PM e delegados da Civil. E fez as duas instituições, historicamente rivais, se integrarem física e institucionalmente. A segunda fase do choque de gestão estabeleceu metas para o governo, cujo fiscal é o vice-governador. Ele tem fama de dar broncas em quem não atinge os objetivos, traçados com a ajuda de uma equipe de jovens técnicos que circulam pelas secretarias de notebook debaixo do braço, "os meninos do Anastasia".

- O professor enquadra, mas com classe - diz um secretário de Aécio.