Título: Desde 1969, país teve sete moedas e só encontrou estabilização com o real
Autor: Schreiber, Mariana
Fonte: O Globo, 18/08/2009, Economia, p. 20

Brasil viveu ciclo de pacotes que eliminavam inflação cortando zeros

Em 1º de julho de 1994, quando o Brasil adotou o real, ninguém tinha certeza se a moeda vingaria. Afinal, desde 1969, seis unidades monetárias haviam circulado no país. O real seria a sétima. O brasileiro já tinha se acostumado com o ciclo repetitivo de inflação alta e corte de zeros. Mas, apesar do troca-troca de moedas, reformas estruturais não eram adotadas.

¿ O fundamental não era feito. Não havia base macroeconômica para conter a disparada dos preços ¿ diz Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central (BC) e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio.

Na troca do cruzeiro pelo cruzado em 1986, do cruzado pelo cruzado novo em 1989 e do cruzeiro pelo cruzeiro real em 1993 houve corte de três zeros nas moedas anteriores. Na implementação do real, foi diferente. Criou-se, no início de 1994, um indexador, a Unidade Real de Valor (URV), que se tornou a referência para preços e salários e chegou progressivamente à cotação de 2.750 cruzeiros reais em 30 de junho de 1994. Em 1º de julho, a URV virou o real.

O cruzeiro circulou de 1970 a 1986, mas com os choques do petróleo e o aumento dos juros pelos EUA, a inflação anual medida pelo IGP-DI passou de 19%, em 1970, para 235% em 1985. Depois, vieram quatro moedas e os planos Cruzado (1986), Bresser (1987), Verão (1989), Collor I (1990) e Collor II (1991), mas a hiperinflação persistia.

Uso político acabou afetando eficácia dos planos

O congelamento de preços que se seguiu à adoção do cruzado não teve eficácia duradoura. Num primeiro momento, a inflação caiu, mas houve desabastecimento, e os produtos ¿ negociados no mercado paralelo ¿ encareceram. Depois, o Plano Cruzado estabeleceu o gatilho salarial, que reajustava os salários quando a inflação ultrapassasse 20%, alimentando a espiral. Segundo o economista da LCA Consultores Francisco Pessoa, um dos grandes problemas era a indexação.

O economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, lembra que o congelamento de preços foi popular inicialmente e garantiu vitória ao PMDB nas eleições de 1986. Uma semana depois, o congelamento acabou e a inflação voltou. No Plano Collor, a marca foi o confisco.

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