Título: Desafio talibã põe eleição em risco
Autor: Costa, Florência
Fonte: O Globo, 19/08/2009, O Mundo, p. 28

Grupo cumpre ameaças, ataca palácio presidencial e explode carro-bomba na capital afegã

DESTRUIÇÃO: Um soldado francês tira fotos do local onde ocorreu a explosão do carro-bomba

REVISTA: Um policial afegão checa se um homem porta armas

Osilêncio matinal da tensa capital afegã não dura muito. É rompido por uma forte explosão. Muita gente corre para as janelas ou vai para as calçadas para tentar ver o que foi atingido dessa vez. Eram 7h quando o palácio presidencial ¿ um verdadeiro bunker ¿ foi atingido por morteiros disparados pelos talibãs. O presidente Hamid Karzai, que estava no palácio na hora do ataque, não ficou ferido. Logo depois, uma outra explosão. Outro morteiro atingira a área onde fica o quartel-general da polícia afegã. O Talibã cumprira a promessa de atacar a capital do país às vésperas das eleições presidenciais.

O dia estava só começando. À tarde, um carro-bomba explodiu em meio a um comboio de carros da Otan. Oito pessoas morreram, incluindo dois funcionários da ONU e um soldado da Otan. Mais de 50 pessoas ficaram feridas. Foi o segundo ataque suicida em três dias. No leste do país, dois soldados americanos foram mortos num ataque talibã.

Nesses últimos dias nada é mais seguro em Cabul. Nenhuma proteção inspira confiança, e parte da população parece assustada com o aumento no número de ataques contra a capital afegã. Aceitando sua incapacidade de conter a violência, o governo tomou uma atitude polêmica ontem: decidiu tentar censurar a imprensa.

À tarde, depois dos ataques, o Ministério do Exterior afegão divulgou um comunicado no qual pediu que os meios de comunicação locais e as agências internacionais de notícias não divulguem incidentes violentos entre as 6h e as 20h de amanhã, dia da votação. Segundo o Conselho de Segurança Nacional, a decisão foi tomada ¿em vista da necessidade de assegurar uma ampla participação do povo afegão nas eleições, e para evitar qualquer violência terrorista relacionada ao pleito.¿

Denúncias de venda de títulos de eleitor levantam ameaça de fraude

No local do ataque ao comboio em Cabul, vários homens correram para o local segundos depois da explosão. Ambulâncias carregavam feridos. Jornalistas viram soldados britânicos recolhendo o que pareciam ser pedaços de corpos sobre o teto de uma casa próxima.

As eleições presidenciais de amanhã serão as primeiras dirigidas pelas autoridades afegãs. No pleito passado, em 2004, foram as forças internacionais que lideraram todo o processo.

Além de já estar prejudicada pela violência, a eleição presidencial corre o risco de perder a credibilidade, com denúncias de tentativas de fraude. Segundo a rede BBC, milhares de títulos eleitorais teriam sido vendidos. A Comissão Eleitoral Independente Afegã negou que títulos tenham sido comercializados. Mas com a miséria rompante num dos países mais pobres do mundo, muitos poderão não resistir à tentação de ganhar algum dinheiro em troca do voto.

oglobo.com.br/mundo