Título: Governo manobra para tentar poupar ministra
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 20/08/2009, O País, p. 8

Objetivo de Jucá era impedir convite para Dilma depor na CCJ; oposição reagiu

BRASÍLIA. Na tentativa de impedir que a oposição repetisse o expediente da semana passada, que garantiu que a ex-secretária da Receita Lina Vieira fosse convidada para depor na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), apresentou ontem dois requerimentos: um propondo a convocação e outro convidando a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a comparecer à CCJ. A estratégia de Jucá era derrubar seus próprios requerimentos, impedindo, desta forma, que a oposição apresentasse outros semelhantes. Ele já havia convocado os principais integrantes da tropa de choque governista para ajudá-lo a votar contra os requerimentos quando o presidente da CCJ, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), suspendeu a sessão sem permitir que os dois textos fossem apreciados.

¿ Devido ao avançado da hora, suspendo a sessão, mantendo o quorum para a nossa próxima reunião ¿ anunciou Demóstenes, para a surpresa dos governistas.

Indignado, Jucá anunciou que estava retirando os requerimentos e conclamou os senadores governistas a tirar suas assinaturas da lista de presença, tentando evitar que a sessão seja retomada hoje, com o mesmo quorum. Doze parlamentares seguiram a orientação do líder do governo, que prometeu obstruir os trabalhos, acusando Demóstenes de agir partidariamente.

¿ Vou derrubar o quorum da sessão! Não é possível conduzir os trabalhos desse jeito. Daqui para frente não tem mais conversa, a base está em obstrução ¿ protestou Jucá.

O senador Lobão Filho (PMDB-MA) propôs que o vice-presidente da CCJ, Wellington Salgado (PMDB-MG), reabrisse a sessão: ¿ Não posso fazer isso ¿ respondeu Salgado.

O senador Almeida Lima (PMDBSE) reclamou: ¿ E depois somos nós a tropa de choque... A outra é a tropa de elite? Isso cria jurisprudência e serve para tudo.

Demóstenes não ficou para ouvir as reclamações. Segundo ele, nenhum ato após a suspensão da sessão tem valor, inclusive o da retirada das assinaturas ou dos requerimentos. Sua intenção é submeter a matéria à apreciação da comissão na próxima quartafeira. O convite a Lina Vieira foi aprovado após um cochilo dos governistas, que têm ampla maioria na CCJ.