Título: Mercadante é isolado, diz que sai mas fica, e perde apoio do Planalto
Autor: Camarotti, Gerson; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 20/08/2009, O País, p. 4

Petistas criticam posição dúbia do líder durante votação no Conselho

BRASÍLIA. A determinação do Planalto para que os senadores petistas votassem pelo arquivamento das denúncias contra o presidente José Sarney (PMDBAP) foi mais uma ação para isolar o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP). Desautorizado desde o início, dentro e fora do partido, principalmente com interferência do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), Mercadante defendeu o afastamento de Sarney, mas teve de engolir a palavra final do Planalto.

O petista ameaçou várias vezes renunciar ao cargo de líder, mas acabou ficando. A votação de ontem no Conselho, porém, abriu uma crise sem precedentes na bancada, fragilizando ainda mais a posição do líder.

Líder chegou a entregar o cargo mais uma vez Além disso, num único dia, o PT perdeu dois senadores: Marina Silva (AC) e Flávio Arns (PR). Pressionado pelo presidente Lula e pela cúpula do partido, Mercadante foi obrigado a dar explicações por ter exposto os senadores petistas no Conselho de Ética, ao se recusar a substituir Delcídio Amaral (PTMS) e Ideli Salvatti (PT-SC) pelos senadores Romero Jucá (PMDBRR), líder do governo, e Roberto Cavalcanti (PRB-PB). A troca já tinha a concordância dos dois petistas, que não escondiam o constrangimento.

De manhã, numa reunião no CCBB, sede provisória da Presidência da República, Mercadante chegou a entregar o cargo de líder. Mas recuou depois. Estavam presentes o chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral), o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), e outros dirigentes e líderes partidários. Foi decidido que o PT tomaria uma posição pública como forma de dar um discurso aos senadores petistas e diminuir a pressão.

Após o encontro, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, telefonou para Renan e assegurou que Sarney teria os três votos petistas. Pouco antes, no CCBB, os três senadores do partido no Conselho ¿ Delcídio, Ideli e João Pedro (AM) ¿ ouviram a estratégia definida pelo Planalto e pelo PT.

Foi sugerido que Mercadante apresentasse no Conselho a carta do presidente do PT com a orientação partidária. Mas, na hora, o líder se negou a ler o texto, contrariando os colegas.

¿ Ficou acertado que caberia a Mercadante ler a carta de Berzoini como forma de tentar resguardar os três que votariam a favor de Sarney. Mas, como ele não fez isso, coube a João Pedro.

Dentro da bancada, há uma insatisfação com a conduta dele.

Ele (Mercadante) deveria ter lido a nota e falado aquilo que estava ajustado. Ele não leu e, quando pediu a palavra, nos deixou desamparados, o que, lamentavelmente, não podia fazer.

Ser governo é ter bônus e ônus; não venho para o Senado posar de bacana ¿ criticou Delcídio.

Com a crise, Mercadante convocou reunião de emergência.

Mas, dos 12 senadores, só seis estavam presentes. Não compareceram Marina e Flávio Arns, que anunciaram a decisão de deixar o partido, Delcídio e Ideli, além de Fátima Cleide (RO).

Tião Viana (AC) chegou quando a reunião havia acabado.

¿ Seria hipocrisia ler uma carta e encaminhar uma posição que não concordo. Sempre tivemos uma grande disciplina partidária. A bancada era a favor do desarquivamento das denúncias.

Agora, não reivindico essa posição. Minha vontade verdadeira era de sair da liderança da bancada. Só não fiz isso para não agravar a crise. Mas o meu cargo está à disposição.

Estou aqui, hoje, em solidariedade à bancada. Nunca mudei minha posição. A responsabilidade pelo aprofundamento da crise e pelas dificuldades que vive a bancada do PT é do presidente do Senado, José Sarney ¿ rebateu Mercadante.

O Planalto e a cúpula petista não aceitaram a justificativa. No final do dia, ele recebeu o recado de que o governo não ficaria descontente com a sua saída do cargo de líder ¿ posição reforçada pelos colegas.

¿ É uma atitude individual e respeitável ¿ disse o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP).

COLABOROU: Cristiane Jungblut