Título: Taxa de desemprego surpreende e cai pelo 4o- mês seguido, para 8%
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 21/08/2009, Economia, p. 25

Resultado é o melhor para julho desde 2002. Para analistas, pior já passou

Contrariando as expectativas que chegaram a apostar num colapso do emprego em 2009, a taxa de desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do país recuou pelo quarto mês seguido em julho, para 8%, a menor deste ano. E, pela primeira vez este ano, a taxa caiu não apenas frente ao mês anterior (em junho, havia sido de 8,1%), mas também na comparação com o mesmo mês do ano passado (em julho de 2008, fora de 8,1%).

Para completar as marcas positivas, a taxa foi a mais baixa para um mês de julho desde 2002, quando teve início a série histórica do IBGE. Assim, segundo analistas, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada ontem, deixou claro que o mercado de trabalho continua dando sinais de resistência à crise e que o pior já passou, sobretudo graças aos bons resultados do comércio. Se em junho a ocupação no setor sofreu ligeira retração, de 1,8%; em julho houve expansão de 2,3%.

Indústria ainda não deslanchou, diz IBGE Marcelia Xavier, gerente da loja Ferni do Botafogo Praia Shopping, endossa essa estatística.

Desempregada desde janeiro, foi contratada há duas semanas.

Outros sete profissionais (entre caixa, estoquista e vendedores), que estavam à procura de trabalho, também foram recolocados na Ferni. E ainda há uma vaga aberta para vendedor.

¿ Pode haver ainda mais vagas até o fim do ano. As coisas estão melhores, sim.

No mesmo shopping, outras lojas expõem em suas vitrines anúncios de vagas abertas. A Old Factory precisa de três vendedores devido ao aumento de vendas ao longo do ano.

E a Leeloo, por sua vez, tem vaga para uma vendedora.

Em julho, enquanto o número de desempregados nas seis maiores regiões metropolitanas do país se manteve estável (1,9 milhão de pessoas), o contingente de trabalhadores ocupados cresceu 0,9% em relação a junho, totalizando 21,3 milhões.

O crescimento da ocupação em relação a 2008, quando a crise sequer tinha desembarcado no país, foi de 1,1%. O número de trabalhadores com carteira assinada (9,6 milhões) também cresceu: 1,5% em relação a junho e 4,2% se comparado com o mesmo período de 2008.

Para Cimar Azeredo, gerente da pesquisa do IBGE, a situação só não está melhor ¿porque a indústria não conseguiu ainda deslanchar¿. A exceção ficou por conta de Porto Alegre, onde as indústrias de calçados e o setor automobilístico foram um ponto fora da curva, segundo Azeredo.

Das seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE (Rio, São Paulo, Recife, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre), a menor taxa de desocupação ficou entre os gaúchos: 5,8%, em julho.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, lembra ainda que, do lado da renda, os resultados também foram muito positivos e, junto com os dados de ocupação, levaram ele a concluir que ¿a massa real de renda (soma dos ganhos de todos os trabalhadores) terá um comportamento razoável este ano¿. Se antes Vale previa um aumento da massa salarial de 2,7%, hoje sua projeção é de 3,1% para este ano e de 5% para 2010.

Em julho, a renda média do trabalhador brasileiro ficou em R$ 1.323, com ganho real de 0,5% frente a junho.

¿ Com o Natal, a indústria deve se recuperar ainda em setembro, o que será essencial para o melhor o desempenho do mercado de trabalho ¿ comenta Vale, lembrando que, no começo do ano, chegou-se a projetar que haveria um ¿colapso¿ do mercado de trabalho, com a taxa de desemprego subindo para mais de 10%.

Analista já prevê taxa abaixo de 8% no fim do ano O economista José Márcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos, não descarta agora a possibilidade de o desemprego fechar o ano abaixo de 8%. Ele chegou a projetar, no início do ano, uma taxa de desemprego de dois dígitos para 2009.

¿ O pior efeito da crise sobre o mercado de trabalho já ficou para trás ¿ diz Camargo, que previa que o desemprego ficaria em 8,4% em julho, acima do apurado pelo IBGE.

A taxa de desemprego divulgada ontem também ficou abaixo da projeção da LCA Consultoria Econômica, que era de 8,5%. Agora, a previsão da LCA é que a taxa fique estável em 8%.

COLABOROU Fabiana Ribeiro