Título: Nestlé investe R $ 20 milhões no Rio e avalia construção de fábrica no Estado
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 22/08/2009, Economia, p. 31

Empresa tem alta de 7% nas vendas do país e investimento supera o planejado

IVAN Zurita, no Palácio Guanabara, no Rio: ¿A diferença desta crise é ter velocidade e aproveitar os momentos¿

A Nestlé tem pressa. Após arrendar e construir fábricas Brasil afora este ano, a maior produtora de alimentos do mundo está investindo R$20 milhões no Rio de Janeiro em um projeto inédito no país, que envolve o patrocínio de eventos esportivos e a estreia de uma parada da Disney, pela primeira vez na América do Sul. Após vender por R$9 milhões uma fábrica de alimentos em Barra Mansa, a companhia já está analisando outras alternativas de investimento fabris no Estado, revelou ao GLOBO Ivan Zurita, presidente da Nestlé. O Rio de Janeiro, diz o executivo, já empata com São Paulo no primeiro lugar em vendas no país.

O projeto de marketing da empresa faz parte da campanha ¿Rio Faz Bem Nestlé¿. Haverá eventos de esportes radicais, de vela e o espetáculo ¿Momentos Mágicos Disney¿, que deve reunir 500 mil pessoas em Copacabana no fim de novembro. As ações serão realizadas pela agência Maior, da ABC, de Nizan Guanaes.

O faturamento da companhia no país ¿ segundo mercado da Nestlé no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos ¿ deve chegar a R$15 bilhões este ano, uma alta de 7% em relação ao ano passado. Apesar do bom resultado, Zurita diz que o momento é de uma ¿margem menor¿. Ele exemplifica: se as vendas caírem 5%, cerca de 15 mil pessoas perdem o emprego.

¿ Não dá para ficar eufórico não. Cada mês é um mês. Vamos fechar este ano com o mesmo crescimento do ano passado. Tivemos de absorver muita coisa. As margens estão apertadas. Implantamos um projeto de tecnologia, no qual as operações que não contribuem estão sendo eliminadas do processo.

Estado do Rio quer dobrar produção de leite até 2014

Como antídoto à falta de crédito, a companhia já emprestou cerca de R$200 milhões para seus pequenos e médios fornecedores este ano. Além disso, está atenta a novas oportunidades, como em segmentos em que a multinacional tem pouca presença.

¿ Nós não adotamos a crise. Decidimos assumi-la. Naquele primeiro momento (no fim do ano passado), a velocidade de decisões era fundamental. A diferença desta crise é ter velocidade e aproveitar os momentos. Temos que acreditar no crescimento para poder investir ¿ disse Zurita, que se reuniu ontem com o governador do Estado, Sérgio Cabral, e o prefeito do Rio, Eduardo Paes.

Segundo Christino Áureo, Secretário de Agricultura do Estado do Rio, o Estado pretende dobrar a produção de leite no Rio, dos atuais 550 milhões de litros por ano para 1 bilhão até 2014. E, dessa forma, diz, há espaço para acomodar planos de companhias como a Nestlé.

¿ Possibilidades podem ser discutidas no futuro, como pacote tributário para o fomento da bacia leiteira no Estado do Rio ¿ completa Áureo.

Em todo o país, Zurita lembra que este ano já foram investidos mais que os R$350 milhões planejados. Para crescer no Sul, a empresa arrendou por R$108 milhões a maior fábrica da Parmalat em Carazinho, no Rio Grande do Sul, com o objetivo de adquirir a unidade no futuro. Em seguida, por R$120 milhões, anunciou a construção de uma nova fábrica de lácteos em Araraquara, no interior paulista.

¿ Aquele que acredita é quem dá o passo mais largo. Se eu não crescer 3%, tenho que cortar a empresa por dentro. Então o nosso objetivo é crescer sim ou sim ¿ afirma.

Vendas no Nordeste crescem 30% acima da média do país

Com 27 fábricas no país, a Nestlé está surpresa com o avanço do Nordeste. Com a ajuda do Bolsa-Família, a região registra alta de 30% superior em relação ao resto do país. Assim, a companhia está aumentando a capacidade de produção da fábrica de Feira de Santana, na Bahia. Zurita lembra que 82% das categorias são consumidas pelas classes C, D e E. Hoje, a baixa renda é responsável por faturamento de R$1 bilhão.

¿ No Nordeste, a baixa renda cresce muito. Hoje, Tocantins e Palmas não lembram em nada o que eram . No Nordeste não se produzia nem leite. Agora, há produção em todos os estados. Por isso, investimos no sistema de vendas porta-a-porta. No Rio, por exemplo, já são 700 mulheres atuando ¿ acrescenta Zurita, na empresa desde 1973, quando entrou como estagiário.

Perguntado sobre novos investimentos, Zurita destaca o segmento de água no Brasil, que detém cerca de 20% das reservas do planeta:

¿ Para ser grande no Brasil, é preciso ter produção de 1 bilhão de litros por ano. Hoje, temos entre 400 e 500 milhões por ano com nossas marcas.