Título: Convergência digital desafia telecomunicações
Autor: Tavares, Mônica; Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 22/08/2009, Economia, p. 29

Em 40 anos, cerca de 40 milhões de brasileiros passaram a ter linha de telefone fixo. Número custava até US$ 6 mil

BRASÍLIA e RIO. Após 40 anos de profundas transformações nas telecomunicações, a convergência digital é o novo desafio do setor. Se, em 1969 ¿ ano em que foi criado o caderno de Economia do GLOBO ¿, ter uma linha telefônica era um luxo que custava o equivalente a até US$ 6 mil, hoje a voz é a pequena porção de um sistema de comunicação em que imagens e sons, na forma de bits e bytes, se movimentam globalmente, em segundos, por fibra ótica e pelo ar, em contornos digitais. E telefones, computadores e televisores operam juntos, em multifunções.

A internet é a mais novata face desta transformação. Em 1991, desembarcava no Brasil servindo à comunidade acadêmica, com a instalação da Rede Nacional de Pesquisa em 11 capitais.

Hoje, com pelo menos dez milhões de conexões à banda larga, a preocupação é a inclusão digital plena, com acesso em alta velocidade para as escolas públicas e áreas rurais.

A TV digital, com som de CD e imagem de cinema, começou a funcionar no país em dezembro de 2007 e já é a realidade de 17 capitais. A tecnologia, em breve, sairá dos lares para ganhar celulares e meios de transporte. A rádio digital será regulamentada e instalada em três anos.

¿ Em 40 anos nós tivemos uma verdadeira revolução. E agora estamos no limiar de outra revolução tecnológica, a convergência digital. É o telefone de terceira geração, é a internet móvel, é a TV digital ¿ afirmou o ministro das Comunicações, Helio Costa, que se lembra de quando era repórter e tinha que esperar de duas a três horas para fazer uma ligação do Rio a São Paulo e um dia para completar um telefonema internacional.

Hoje, com 41,1 milhões de assinantes, o telefone fixo sobra nas prateleiras e as empresas não cobram pela instalação. Em 1969, com 1,8 milhão de assinantes, a linha era um ativo registrado no Imposto de Renda ¿ que também surgiu naquele ano. Os celulares não existiam, mas viraram item essencial e são mais de 150 milhões, que cobrirão todos os municípios até 2010. O Estado do Rio já está 100% atendido.

As transformações tecnológicas e a expansão do acesso, porém, foram construídas arduamente.

Especialmente no Brasil, onde há 40 anos havia mais de 900 operadoras independentes nas cidades.

¿ Era uma confusão. Várias empresas com tecnologias diferentes.

Por isso, era difícil fazer interurbano. Há 40 anos, foi criada a Embratel, que passou a ser a responsável pelas ligações interestaduais e internacionais.

Em 1972, os militares criaram a Telebrás ¿ diz Cesar Rômulo Silveira Neto, superintendenteexecutivo da Telebrasil.

Em 1969, os cariocas usavam os serviços da Companhia Telefônica Brasileira (CTB) ou da Companhia Estadual de Telefones (Cetel). Com a Telebrás, a CTB e a Cetel foram incorporadas e, em 1975, viraram Telerj.

Em 1998, no governo Fernando Henrique, a Telebrás foi privatizada, com a entrada de multinacionais e a arrecadação de R$ 22 bilhões. Quatro empresas foram criadas na área fixa e dezenas na móvel, com a promessa de mais competição no setor. Para regular o mercado, foi aprovada a Lei Geral de Telecomunicações e surgiu a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A oferta fácil de linhas e celulares virou realidade. Mas a competição ficou na promessa, já que a vantagem das herdeiras da Telebrás era grande.

Recentemente, a Oi (ex-Telemar) comprou a Brasil Telecom, formando uma supertele que reduziu a telefonia fixa a um duopólio (a outra empresa é a Telefônica).

No celular, o resultado é mais satisfatório, mas prevalecem grandes grupos. Um estímulo à competição vigora desde o ano passado, com a opção de mudar de companhia mantendo o número. E a oferta de pacotes (telefone, internet e TV), em associações de telefônicas e operadoras de TV a cabo, tem sacudido o mercado. O preço é a principal barreira ao acesso: ¿ Se as empresas cederem um pouquinho nas tarifas e o governo ceder um pouquinho nos impostos, vamos ter um grande avanço para o usuários ¿ reconheceu Helio Costa.

Setor lidera reclamações no atendimento a usuário A velocidade nas telecomunicações foi a mesma com que o setor escalou o topo das reclamações.

A telefonia foi responsável por 57% das mais de seis mil queixas apuradas nos oito primeiros meses de vigência das regras para call centers.

Rafael Salles, diretor da Real Solution, utiliza do celular inteligente, com conexão à internet, a computadores portáteis: ¿ É inviável trabalhar com velocidade e dinamismo sem as recentes tecnologias