Título: Otimismo contagiante
Autor: Frisch, Felipe; Scofield Jr.Gilberto
Fonte: O Globo, 22/08/2009, Economia, p. 27

Presidente do BC americano vê sinais de crescimento no curto prazo e anima mercados

JACKSON HOLE (Estados Unidos), RIO, WASHINGTON, NOVA YORK e LONDRES

Opresidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, fez ontem sua previsão mais otimista em mais de um ano sobre a economia dos EUA, assegurando que ¿a perspectiva de uma retomada do crescimento no curto prazo parece boa¿. Num discurso a autoridades e economistas, durante a conferência anual do Fed, Bernanke foi além do último relatório da instituição, apontando que a economia está se equilibrando e a recessão se aproxima do fim. As palavras do presidente do Fed animaram bolsas do mundo todo e levaram o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, a subir 1,67% e fechar a 9.505 pontos, no maior patamar desde novembro do ano passado.

Ao destacar que os empréstimos de curto prazo estão funcionando mais próximos da normalidade; que as empresas estão mais fortalecidas; e que o outrora moribundo mercado de securitizações dá sinais de vida; Bernanke acrescentou que os EUA e outros países importantes estão prontos para crescer.

No Brasil, alta de 1,58% na Bovespa

O aumento inesperado da venda de imóveis usados nos EUA reforçou a visão do presidente do Fed. A NAR, associação de agentes imobiliários, divulgou ontem um balanço do setor, afirmando que a venda de imóveis usados subiu 7,2% no mês passado, à medida que mutuários de primeira viagem aproveitaram a oferta de um crédito em forma de desconto de impostos de US$ 8 mil. Foi a quarta alta mensal seguida, totalizando a taxa anualizada de 5,24 milhões de unidades vendidas, o maior patamar desde agosto de 2007.

¿ Após a contração acentuada do ano passado, a atividade econômica parece estar melhorando, tanto nos EUA quanto no exterior, e as perspectivas de uma retomada do crescimento no curto prazo parecem boas ¿ disse Bernanke.

Investidores em Wall Street comemoraram os dados sobre imóveis e o otimismo de Bernanke. O índice Dow Jones, referência da Bolsa de Nova York, avançou 1,67%. O índice de tecnologia Nasdaq subiu 1,59% e o S&P¿s 500 ganhou 1,86%, para 1.026 pontos, seu maior patamar desde outubro do ano passado.

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) também reagiu bem à fala otimista de Bernanke. O Índice Bovespa (Ibovespa) subiu 1,58%, para 57.728 pontos, sua quarta alta seguida, atingindo a maior pontuação desde 31 de julho do ano passado.

No ano, o Ibovespa já sobe 53,74%.

As maiores valorizações do dia foram das ações das construtoras Rossi, Gafisa e Cyrela, que subiram 11,15%, 9,86% e 5,55%, respectivamente, com a expectativa de que o setor seja um forte beneficiado pela recuperação econômica. O dólar teve o seu quarto dia seguido de queda, de 0,65%, e fechou a R$ 1,831.

Ao discorrer sobre a economia americana, Bernanke afirmou que os sinais de melhora não se restringem aos EUA, citando dados positivos inesperados em outras partes do mundo, como Alemanha e Japão. Ontem, pesquisas confirmaram que a economia da zona do euro provavelmente retomou o crescimento neste trimestre, após a pior recessão de sua história. A leitura preliminar do índice Markit, que compila os setores de serviços e manufatureiro para a zona do euro, retomou os níveis de expansão de agosto.

Subsídio a troca de carro acaba nos EUA

Pesquisas semelhantes para França e Alemanha mostraram que essas economias também voltaram a território positivo. Mas economistas alertaram que o ainda elevado desemprego poderá ser um obstáculo para uma recuperação duradoura. Bernanke também foi cauteloso nesse aspecto: ¿ A recuperação tende a ser relativamente lenta num primeiro momento, com o desemprego desacelerando apenas gradualmente.

O governo dos EUA anunciou ontem que vai encerrar, na próxima segunda-feira, o programa que subsidia a troca de carros antigos por modelos mais eficientes no consumo de combustíveis (batizado de ¿Cash for clunkers¿, ou ¿Dinheiro por sucata¿), menos de um mês após sua criação e dois meses antes do prazo oficial para o seu término.

A decisão foi tomada devido ao sucesso do programa. A verba de US$ 3 bilhões que havia sido separada para subsidiar o programa ¿ os donos de carros velhos recebem um desconto de até US$ 4.500 na compra de um modelo novo, valor que é reembolsado às concessionárias pelo governo ¿ simplesmente acabou.

Nada menos que 457 mil novos carros foram vendidos e ao menos três das maiores montadoras do país (General Motors, Ford e Toyota) tiveram que readmitir funcionários que haviam recebido licenças não-remuneradas por causa da crise econômica.

¿ De certo modo, fomos vítimas do próprio sucesso ¿ disse o presidente dos EUA, Barack Obama.

A demanda por carros novos foi tão grande que o próprio governo teve que contratar mais 1.100 pessoas para trabalhar no programa