Título: Desafio de petista é tentar acordo com bancada rachada e com PMDB
Autor: Camarotti, Gerson; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 22/08/2009, O País, p. 4

Mercadante será um líder sonâmbulo a partir de agora, diz Cristovam

BRASÍLIA.

O recuo de última hora para permanecer no cargo e a posição errática do líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), durante a crise do Senado só ampliaram suas dificuldades para conduzir o partido daqui para a frente. Os problemas não são pequenos: racha na bancada, estremecimento do diálogo com o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), forte rejeição do PMDB, além das divergências com o Planalto e com o PT.

Os aliados questionam sua capacidade para retomar a autoridade de líder. Mercadante, em seu discurso, reiterou suas diferenças com a direção do PT e com o governo. E admitiu que cometeu erros que poderão inviabilizar sua interlocução com Sarney e o com líder do PMDB, Renan Calheiros (AL).

¿ Eu perdi uma certa condição de interlocução política nesta Casa, por exemplo com o presidente Sarney. É evidente! É muito mais difícil ser líder nessas condições, depois de uma crise como essa ¿ discursou.

Os poucos senadores que o ouviram no plenário consideraram um erro a permanência no cargo. Para Cristovam Buarque (PDT-DF), a sensação que ficou do discurso de Mercadante é de houve um ¿chamado de Deus¿, no caso, o presidente Lula.

¿ A transformação de um líder em um deus ou semideus é um passo à tragédia na biografia desse líder e também na História do país. Até porque é muito rápida a transformação de um deus em ditador. Às vezes há ditadores que não precisam usar armas, basta usar as cartas ¿ disse Cristovam: ¿ Mercadante será um lídersonâmbulo a partir de agora.

Agripino: Lula assume a liderança de fato Pedro Simon (PMDB-RS) demonstrou surpresa e discordância: ¿ Também me surpreendi com o tom do pronunciamento do líder do PT. Mas não concordo no sentido de que, obrigatoriamente, ele tenha que seguir a posição do diálogo de cabeça baixa com o Lula. Ele mostrou isso, no episódio do qual saiu de cabeça erguida. Ele debateu, lutou, esforçou-se contra um esquema organizado: primeiro, o PMDB; segundo, o PT.

Marina Silva criticou a opção pela governabilidade adotada por Lula. Mas evitou falar publicamente sobre o recuo de Mercadante.

¿ A governabilidade não se estabelece a qualquer custo e a qualquer preço. Quando ela acontece dessa forma, pode prejudicar a própria governabilidade.

O que eu ia dizer ao senador Mercadante é que eu respeito a decisão dele. O que ele expôs aqui só demonstra a dificuldade que teve de enfrentar essa questão ¿ disse ela, em entrevista.

Para o líder do DEM, Agripino Maia (RN), Mercadante continuará líder fazendo mera figuração, pois quem manda é Lula: ¿ Quem assumiu a liderança do PT e do Bloco hoje foi Lula. O presidente sempre teve uma pinimba com o Senado.

Agora, com esse arranjo de deixar o Mercadante, assume a liderança de fato.

Para Wellington Salgado (PMDB-MG), um porta-voz do grupo de Sarney e Renan, no jogo do ¿perde-perde¿ que foi essa guerra no Senado, Mercadante foi o grande perdedor.

¿ Mercadante achou que era mais importante que o PT e se deu mal. Ele já tinha a mesma relação ruim com o Renan antes disso. Agora, todo mundo vai ter que se sentar à mesa de líderes com a hipocrisia de quem finge que nada aconteceu.