Título: Mais importante para o crescimento do que o pré-sal
Autor: Melo, Liana; Martin, Isabela
Fonte: O Globo, 23/08/2009, Economia, p. 32

Economista afirma que apostar em educação é mais rentável do que investir em máquinas e equipamentos

LANGONI: para governo militar, educação era gasto, não investimento

Houve um tempo em que, disposto a crescer a qualquer custo, o Brasil investiu maciçamente na industrialização sem se preocupar em elevar o nível de conhecimentos e habilidades de sua mão de obra. Para Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o país começou a deslanchar quando resolveu investir no capital humano - que, a seu ver, renderá mais que as reservas do pré-sal.

José Meirelles Passos

Por que o seu estudo do impacto da educação sobre a distribuição de renda, nos anos 70, foi recebido com tantas críticas e polêmica?

CARLOS LANGONI: Achavam que o custo da educação era gasto e não investimento. O conceito de capital humano era desconhecido. Mostrei que investir nisso era muito mais rentável do ponto de vista social do que investir em máquinas e equipamentos. E não acreditavam nisso.

O Brasil não se preocupava com a educação de sua mão de obra?

LANGONI: Nos tigres asiáticos houve investimentos no ensino fundamental e no médio, e depois houve um forte crescimento da educação superior. Isso aconteceu pari passu com o processo de industrialização, enquanto no Brasil a industrialização veio primeiro. Só depois é que começaram a pensar na educação.

Qual é a implicação disso na distribuição de renda?

LANGONI: O fator mais importante para explicar a distribuição de renda no Brasil não era a política salarial do governo militar. Dizia-se que havia um achatamento salarial. Todo mundo achava que esse era um problema puramente de política econômica. Mostrei que ele era basicamente estrutural, relacionado à desigualdade do trabalho, causado principalmente por esse problema da educação. Mostrei que para corrigir a desigualdade de renda seria preciso investir maciçamente na educação, porque ela alavancava o crescimento econômico através de ganhos de produtividade.

A melhoria da desigualdade de renda no Brasil nos últimos anos é reflexo dessa tese?

LANGONI: Certamente. O Brasil viveu muitos anos com um modelo de crescimento que não foi sustentável. Era uma arquitetura macroeconômica muito pouco consistente, que tornava o país muito vulnerável a choques externos, e o fez conviver com um crescimento instável e ciclotímico. Não conseguimos ter um padrão de crescimento sustentado. Por isso o Brasil não repetiu o sucesso dos tigres asiáticos.

Quando começou a virada?

LANGONI: Nos anos 90 o Brasil finalmente deu o grande salto quantitativo na educação, com uma grande proporção de crianças na escola, no ensino fundamental. O desafio agora é estender isso até o ensino médio. Passou a surgir mão de obra de melhor nível de qualificação no mercado de trabalho. E, portanto, reduzindo a desigualdade nesse mercado.

Houve então uma mudança estrutural?

LANGONI: Duas mudanças estruturais em comparação com a economia do passado. De uma economia de baixo investimento em capital humano e de alta inflação, passou-se à uma economia com crescimento nos investimentos em educação fundamental e, finalmente, à conquista da estabilidade macroeconômica. E em cima disso vieram as políticas sociais.

Já dá para quantificar o retorno dos investimentos em educação?

LANGONI: Se (a educação) for consolidada com melhoria qualitativa será algo mais importante para o crescimento do que a descoberta das reservas do pré-sal.