Título: O PT não trata a ética como se fosse uma questão isolada da política
Autor: Berzoini, Ricardo
Fonte: O Globo, 23/08/2009, O País, p. 4
Presidente do partido diz que oposição queria forçar conflito entre governo e PMDB
ENTREVISTA
Ao defender a posição do PT, de engavetar as representações contra o senador José Sarney (PMDB-AP), o presidente do partido, deputado federal Ricardo Berzoini (SP), disse que os petistas não abandonaram a ética ¿ mas foram obrigados a se contrapor à oposição que, em sua visão, queria jogar o governo contra o PMDB. Apesar de liderar a estratégia pelo fim das investigações no Conselho de Ética, ele agora chega a defender uma CPI para investigar o Senado
Ricardo Galhardo SÃO PAULO
O GLOBO: Qual o balanço da crise no Senado e no PT? RICARDO BERZOINI: Foi um episódio difícil porque a bancada no Senado estava com uma visão muito focada no fato em si, desconhecendo a importância de analisar essa questão em um aspecto mais amplo, não verificando que a oposição vinha numa tática de tentar estabelecer um conflito político entre o PT e o PMDB no Senado. Até acreditando que o o Conselho de Ética teria condição de fazer um debate sobre essa questão de maneira isenta. Na verdade, o Conselho de Ética é um foro político e a votação demonstrou isso.
O PT fez o certo no Conselho de Ética. O PT não errou.
Mas o PT não acabou caindo na armadilha, já que, certamente, entrou em conflito com o eleitorado que defende a ética na política? BERZOINI: O PT defende a ética mas não trata a ética como se fosse uma questão isolada da política. Defendemos investigações no Ministério Público, na Polícia Federal, no Judiciário, que são instrumentos institucionais.
Quando se concentra a investigação no Parlamento é porque se quer fazer disputa política.
Quando se ignora irregularidades graves cometidas por outros senadores e se concentra só no presidente da Casa é porque se quer fazer disputa política.
Como o PT vai explicar isso ao eleitor? BERZOINI: É óbvio que é um debate que temos que fazer com a sociedade. Não é um debate que está feito, que está tranquilo. Ou a gente enfrenta ou a gente se acovarda. E na política quem se esconde normalmente perde. Quem enfrenta tem chance de ganhar.
Então a questão é ganhar? BERZOINI: Não. A questão é não cair em armadilha e facilitar o trabalho da oposição. Não reconheço no DEM, que está na 1aSecretaria (da Mesa do Senado) há 14 anos e diz que não sabe dos atos secretos, autoridade política para fazer essa investigação.
Não reconheço no PSDB, que nas CPIs do Proer e do Banespa agiu para não ter investigação, autoridade política. Reconheço no Ministério Público.
Muita gente diz que o PT trocou a ética pelo pragmatismo.
BERZOINI: Eu seria favorável a uma CPI para apurar o conjunto da obra no Senado. Por que a oposição não aceita? Porque, com uma CPI, certamente não conseguiriam pôr o foco só no presidente do Senado.
Os atos secretos envolvem mais de 40 senadores dos mais variados partidos. O PT não abandonou a ética. Mas o PT, no governo, precisa ter clareza de qual é o espaço para a defesa da ética. Certamente, não é no Conselho de Ética do Senado. A simplificação só interessa a quem não quer investigar em profundidade. O PT não pode ser ingênuo e entrar nesse joguete