Título: Função do Banco do Brasil
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Fonte: Correio Braziliense, 10/04/2009, Opinião, p. 16

A demissão de Antonio Francisco de Lima Neto da presidência do Banco do Brasil situa-se no mesmo plano lógico das diretrizes até agora adotadas pelo governo para aliviar os efeitos da crise financeira mundial no país. Vale destacar a que busca aumentar a oferta de crédito pela redução das taxas de juros e dos spreads (diferença entre o que o banco paga para captar recursos e o cobrado dos clientes). Ordem específica em tal sentido foi expedida ao BB pelo presidente da República. Lima ignorou-a. Foi apeado do cargo.

Situado no ranking nacional como terceira maior rede bancária, tanto em número de agências quanto em patrimônio e resultados líquidos, o BB guarda objetivos estratégicos bem mais relevantes para a sociedade do que as instituições congêneres. Cumpre-lhe, por exemplo, o encargo de maior operador do crédito rural, com a função de torná-lo ao alcance de todos os produtores mesmo ante eventuais adversidades do setor. É dele, em parte considerável, a responsabilidade de financiar atividades menos atrativas à banca privada, sempre movido pelo interesse de impulsionar a expansão econômica e social.

Quando em setembro o país foi levado a bracejar na maré montante da desordem econômica internacional, concluiu-se pela impossibilidade de enfrentá-la sem recorrer a providências amargas, inortodoxas. A política monetária, em parte calcada na prática de juros elevados para combater a inflação, teve que refluir. Naquele mês, a taxa Selic (referencial para o mercado financeiro) estava em 13,75%. Em 1º de janeiro declinou para 12,75%. A partir de 3 de março retrocedeu a 11,75%. Perdura a trajetória de queda.

Mas o custo do dinheiro permaneceu inalterado nas carteiras de empréstimos, inclusive nas dos bancos oficiais. Entre tantas conveniências macroeconômicas e sociais que justificam a existência do Banco do Brasil, desponta em posição exponencial a de regular o mercado financeiro. Portanto, conduzi-lo a praticar taxas de juros mais baixas seria normal em qualquer circunstância. Mas toma o feitio de atitude impositiva quando a obsessão rentista do sistema conspira contra a recuperação econômica submetida a graves tremores recessivos.

Ao novo presidente do BB, Aldemir Bendine, foi confiada em contrato de gestão não só a inflexão para baixo das taxas de juros. Também deverá diligenciar a elevação dos fluxos de crédito e aumento das operações na captura de correntistas. Financiamentos mais acessíveis em uma agência governamental da dimensão e credibilidade do Banco Brasil fomentam concorrência tendente à diminuição dos juros nos bancos privados. É o que a nação precisa para escapar de maneira mais rápida das turbulências atuais.