Título: Após polêmica com Lina, Dilma sai de cena
Autor: Alencastro, Catarina; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 24/08/2009, O País, p. 4

Estratégia do governo e do comando da campanha à sucessão de Lula é tentar diminuir desgaste político da ministra

BRASÍLIA. Depois de um período de superexposição na mídia e em palanques políticos - o que motivou ações na Justiça por campanha fora de época - a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, submergiu e pretende mergulhar ainda mais nos próximos dias. No centro da polêmica com a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, que a acusa de interferir na investigação sobre Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), a estratégia do grupo que comanda sua campanha é tirá-la de cena por um período, que pode ser de apenas uma semana ou mesmo de férias mais prolongadas.

A justificativa é que Dilma precisa reduzir a exposição para se recuperar após o tratamento do câncer linfático.

- Do ponto de vista político, ela vai continuar fazendo o que tem que fazer. A exposição dela é normal, ela é chefe da Casa Civil, organismo central do governo. A diminuição temporária da carga horária não tem nada a ver com a política. Ela vai ficar um pouco menos ativa para terminar a radioterapia e voltar 100% - diz o deputado Ricardo Berzoini, presidente do PT.

Ministra já reduziu a agenda, sem aparições públicas

Mas, nos bastidores, aliados reconhecem que ela está no limite de suas forças e precisa se recuperar do desgaste imposto pelas declarações de Lina Vieira. A aliados, Dilma mantém a versão de que não se encontrou com Lina. A ministra já reduziu a agenda, sem aparições públicas e sem despachos oficiais, e só pretende reaparecer nos eventos do lançamento do marco regulatório do pré-sal, no dia 31.

Depois, ela deve se recolher. Não se sabe se ela vai se afastar oficialmente, deixando a secretária-executiva Erenice Guerra em seu lugar. O governo ficou irritado com o que chama de exploração pela oposição das declarações de Lina Vieira. O depoimento da ex-secretária na Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ), na última terça-feira, coincidiu com os dias de tratamento da ministra, em São Paulo.

Ontem, o chefe do Gabinete Pessoal da Presidência, Gilberto Carvalho, saiu em defesa da ministra. Em tom de desabafo, ele disse que quem mentiu foi Lina Vieira, ao afirmar que já esteve no gabinete de Dilma. Para Carvalho, a prova isso é que Lina não conseguiu descrever o gabinete da ministra, além de não ter apresentado provas de que o encontro ocorreu. Para ele, cometeram uma leviandade e uma injustiça contra a Dilma.

- Se fosse alguém do governo que fizesse essa declaração tão infundada e sem descrever o local, como ela não soube descrever, seria declarado um irresponsável. Mas, como é contra o governo, vale tudo. A oposição está sem causa e faz essa injustiça com a Dilma. Ela (Lina) deu a desculpa de que estava na penumbra. Que penumbra? Não tem nada de vista com penumbra - disse Gilberto Carvalho ao GLOBO, afirmando que estava fazendo um desabafo.

Para Demóstenes, episódio enfraqueceu muito Dilma

Já para a oposição, o governo lança mão de uma estratégia política ao esconder Dilma para poupá-la de um desgaste que pode repercutir na disputa eleitoral.

- Como ela não tem peso próprio, quando ela deixa de aparecer, as intenções de voto ou se estabilizam ou caem - avaliou o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (PSDB-SP).

Já o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) disse que a ministra se enfraqueceu muito com o episódio de Lina Vieira e não se sustenta mais como candidata do governo à sucessão de Lula.

- Ela mentiu muito, foi mentindo, mentindo, mentindo, e agora querem tirá-la de cena para repaginar seu currículo. Por conta dela mesma, despencou, e é irreversível. Esse remendo em pneu velho não surte efeito, tem que trocar o pneu. Se o governo não trocar de candidato, vai perder por antecipação. O brasileiro não quer um presidente mitômano - avalia.

- É para tirar a ministra do fogo. É para escondê-la - opinou o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN).

Governistas, no entanto, rejeitam a tese de que a ministra estaria sendo estrategicamente retirada de campo. A explicação para o sumiço de Dilma é sua saúde. Mas todos adotaram um discurso agressivo de defesa da ministra.

- O que a Dilma está fazendo é tirar umas pequenas férias, merecidas. Não tem nada de fugir do caso Lina, até porque qualquer pessoa desapaixonada vê que a Lina está mentindo - defende o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP).