Título: PT chama de ato político; oposição, de reação a tentativa de ingerência
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 25/08/2009, O País, p. 4

Se as pessoas querem sair, que saiam. Ninguém é insubstituível, diz petista

BRASÍLIA. Parlamentares da oposição disseram ontem que a saída de 12 integrantes da cúpula da Receita Federal é uma reação a tentativas de ingerência política no órgão. Eles acusaram o governo de ter aumentado a pressão sobre a Receita ao exonerar dois servidores ligados à ex-secretária Lina Vieira. Já o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), negou interferências e classificou a demissão coletiva de ato político.

O motim foi elogiado pelo líder do DEM na Câmara, deputado Ronaldo Caiado (GO). Para ele, a carta de demissão demonstra insatisfação generalizada com o governo nos escalões inferiores do órgão: ¿ São servidores de carreira que exigem independência e não aceitam a submissão que tentam impor. É um gesto que deve ser aplaudido, porque a grande maioria costuma se calar para não perder o cargo.

Na avaliação do deputado, o governo teria feito uma caça às bruxas contra os ex-assessores de Lina, que acusa a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de pedir pressa na fiscalização de empresas da família Sarney: ¿ É uma clara retaliação. O governo está contrariado porque a ex-secretária teve atuação independente e não se submeteu a pressões.

O líder da minoria no Congresso, deputado Otavio Leite (PSDB-RJ), afirmou que a debandada enfraquece o novo secretário, Otacílio Cartaxo: ¿ Fica mais clara a instabilidade emocional do governo com a queda na arrecadação. Explica a ação desesperada no Congresso para tentar ressuscitar a CPMF com a criação da CSS.

Vaccarezza falou duro contra os demissionários: .

¿ Se as pessoas querem sair, que saiam. Ninguém é insubstituível.

O petista disse que a ex-secretária não conseguiu sustentar as acusações contra Dilma no depoimento à Comissão de Constituição de Justiça do Senado.

Ele sustenta que Lina mentiu ao acusar a ministra de pedir pressa na investigação, em encontro que Dilma diz não ter ocorrido: ¿ Não há e não houve qualquer ingerência indevida no órgão.

Se o governo quisesse interferir politicamente na Receita, não teria esperado sete anos e meio para começar a fazê-lo.