Título: Furnas: diretor critica aparelhamento político
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 26/08/2009, O País, p. 8

Fábio Resende deixará Operações atacando ingerências que provocariam quebra da hierarquia e risco para sistema

O diretor de Operação e Comercialização do Sistema Furnas, Fábio Resende, que deixará o cargo no dia 1ode setembro por iniciativa própria, disse ontem que ingerências políticas em Furnas estão provocando quebra de hierarquia interna, com riscos para o bom funcionamento do sistema elétrico brasileiro.

¿ As correntes políticas que hoje predominam nas indicações para dirigentes de Furnas estão deteriorando as relações de confiança entre os empregados e suas chefias em algumas áreas do escritório central ¿ declarou o diretor, evitando citar os políticos que mais o incomodam.

Fábio disse temer que a indicação de seu substituto obedeça a critérios políticos e não técnicos. Ele alertou que, se isso acontecer, haverá risco para um setor estratégico do sistema ¿ a Diretoria de Operação responde por 11 usinas, 46 subestações, 19 mil quilômetros de linhas de transmissão e três mil empregos.

¿ Hoje, a expectativa é de quem vai ser o meu sucessor.

As pessoas não entendem a importância desse setor. O governo deveria pensar muito bem antes da escolha. Se for uma indicação política irresponsável, vai afetar o sistema inteiro ¿ disse Resende.

Fábio Resende, de 65 anos, trabalhou por 41 em Furnas, somadas três passagens pela empresa. Ocupa a diretoria há seis anos e oito meses. Irmão do ministro Sérgio Resende (Ciência e Tecnologia), ele disse que sua maior preocupação é com os efeitos colaterais da politização de Furnas junto às pessoas que trabalham nas subestações espalhadas pelo Brasil.

¿ Se semearem a mentalidade da indicação política, o amigo do prefeito vai se julgar no direito de não trabalhar um dia. Mas existe cadeia hierárquica.

Se a organização não funcionar, fica muito ruim. Na verdade, se não tiver organização direta, ela prejudica tudo.

Deteriora o ambiente de trabalho ¿ advertiu.

Embora alegue que está saindo por ¿motivos particulares¿, o diretor afirmou que as mudanças políticas feitas em Furnas desde a substituição do ex-presidente José Pedro Rodrigues Oliveira por Luiz Paulo Conde (que também já saiu), em agosto de 2007, foram ¿desagradáveis¿ e ¿abalaram a sua saúde¿.

¿ Não se pode tratar Furnas como se fosse a administração de um estado ou de um município, onde, quando entra uma nova corrente política, muda-se tudo. Isso depreda a empresa ¿ lamentou.

O ex-prefeito Conde, que é arquiteto e nunca trabalhara antes em Furnas, foi indicado pelo bancada fluminense do PMDB, que até hoje exerce forte influência no comando da estatal. O partido é acusado por entidades sindicais de ter feito pelo menos três tentativas frustradas de também assumir o controle do Real Grandeza, o fundo de pensão dos funcionários de Furnas.

A saída de Fábio Resende ocorre no momento que que o Real Grandeza inicia um processo eleitoral para a renovação de três dos seis membros do Conselho Deliberativo e dois diretores. Em outubro, já com a nova composição, serão indicados o novo presidente e o diretor de Investimentos. Entidades de classe como o Após Furnas (aposentados) e Sindicato dos Urbanitários de Brasília temem que a mudança abra caminho novas investidas políticas na entidade.