Título: Cartão vermelho de Suplicy vira piada
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Fonte: O Globo, 27/08/2009, O País, p. 10

E Sarney tenta voltar à normalidade

BRASÍLIA. O gesto do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) de levantar um cartão vermelho para o presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP), como forma de protesto contra sua permanência no cargo, virou ontem motivo de brincadeiras entre seus colegas em toda a Casa. Suplicy não escapou de ironias nem do próprio Sarney, que da tribuna disse que seu cartão é branco, o da paz. O petista reagiu com bom humor às provocações, mas reiterou que mantém o cartão vermelho para Sarney e disse só estar disposto a dar-lhe o cartão branco da paz quando ele esclarecer as denúncias ainda não explicadas.

Suplicy também disse que o cartão vermelho é um alerta para o presidente Lula e o presidente do PT, Ricardo Berzoini, para que ouçam o que diz o povo: ¿ Sou muito favorável ao cartão branco da paz, mas, para que se realize a paz, necessitamos da inteira verdade, com base na realização da justiça e com os procedimentos todos desvendados.

Durante a análise do projeto de reforma política, o presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, Flexa Ribeiro (PSDB-PA), recorreu à ideia do petista para acelerar um discurso dele sobre a proposta, debatida ontem em sessão conjunta com a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

¿ Senador Suplicy, acelere a sua fala, se não teremos que dar cartão vermelho para o senhor ¿ ameaçou Flexa, arrancando risos.

Não demorou muito, e o presidente da CCJ, Demóstenes Torres (DEM-GO), levantou literalmente um cartão vermelho para encerrar acalorada discussão entre Suplicy e Wellington Salgado (PMDB-MG) sobre o projeto que proíbe o pagamento de gratificações para funcionários que trabalhem em comissões.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), criticou: ¿ Está na hora de parar o recreio, e começarmos a trabalhar.

Apesar da resistência da oposição a permitir que o Senado retome o ritmo de trabalho, Sarney garantiu ontem a aprovação da indicação de dois embaixadores, a recondução de um diretor da Agência Nacional das Águas e do procurador geral do Conselho Administrativo de Direito Econômico.

Mas não escapou das cobranças do presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), que reclamou do fato de Sarney ter acusado, em entrevista à Globonews, os tucanos de estarem na origem da crise: ¿ Foi injusta e equivocada a palavra de que o PSDB está na origem da crise no Senado. Acho muito estranho que o presidente Sarney tenha dito isso. Pode ter sido resultado de um momento de nervosismo. Mas desafio que diga hoje que o PSDB foi quem produziu essa crise.

¿ Senador Sérgio Guerra, o PSDB não teve nenhuma responsabilidade na origem dessa crise. Se na hora fui induzido pela pergunta a dizer isso, peço desculpas ¿ respondeu Sarney.

Arthur Virgílio (PSDBAM) aproveitou: ¿ Nesse embate o PSDB não retira nem uma palavra, nem um gesto.

¿ Muito obrigado, senador Arthur Virgílio, quero dizer que meu cartão é o cartão branco, o cartão da paz ¿ respondeu Sarney, rindo.

(Adriana Vasconcelos.