Título: Em São Paulo, 24 servidores deixam postos
Autor: Carvalho, Jailton de; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 27/08/2009, O País, p. 3

No RS, outros 15 pedem para sair; presidente do Unafisco diz que demissões vão aumentar

SÃO PAULO, PORTO ALEGRE e RECIFE. O novo superintendente da Receita Federal em São Paulo é José Guilherme Antunes Vasconcellos, que até ontem chefiava a fiscalização no Porto de Santos. Ontem, outros 24 ocupantes de cargos de confiança na superintendência puseram seus cargos à disposição, acompanhando a decisão do ex-superintendente Luiz Sérgio Soares, que deixou o cargo segundafeira. Para o presidente do Sindicato Nacional dos AuditoresFiscais da Receita Federal do Brasil (Unafisco), Pedro Delarue, a avalanche de demissões deve aumentar: ¿ Como se trata de cargos de confiança, é natural que eles ponham seus cargos à disposição na medida em que os chefes saem. Mas não dá para negar que existe um componente de crítica política nisso.

A nomeação de Vasconcellos em São Paulo, principal foco do movimento que se alastrou pelo país, foi vista como um bom sinal pelos auditores. O novo superintendente foi nomeado para o Porto de Santos ainda na gestão de Jorge Rachid e continuou no cargo com Lina. É considerado um técnico, sem vinculações políticas. Mas os 24 pedidos de demissão em São Paulo mostram o tamanho do descontentamento com a saída de Lina e a suposta ingerência política no órgão.

Os demissionários são inspetores, chefes de delegacias da Receita no interior ou chefes de divisões, grande parte deles nomeada por Luiz Sérgio Soares. Evitando usar a palavra rebelião, um dos 25 funcionários demissionários disse que a decisão se deve à possibilidade de mudanças na linha de atuação da Receita. Segundo ele, Lina mudou o foco e escolheu como alvo prioritário grandes contribuintes, e não pessoas físicas e pequenas empresas. Ele diz que isso desagradou a setores do governo.

Segundo ele, o sinal de mudança foi dado em reunião da cúpula da Receita na semana passada, na casa do novo secretário, Otacílio Cartaxo. No encontro, Cartaxo teria dito ao então subsecretário de Fiscalização, Henrique Jorge Freitas, que ¿não teria como segurá-lo no cargo¿ devido a pressões do ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Freitas foi peça central durante a gestão de Lina. A reunião teve a presença de Alberto Amadei, assessor especial da ex-secretária, e Marcelo Lettieri, coordenador-geral de Estudos.

Os dois também foram exonerados.

Outro auditor que pediu sigilo diz acreditar que as demissões foram uma retaliação política, provocada pela forma como a ex-secretária Lina fez denúncias contra a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Para a Unafisco, não existem evidências que permitam falar em uma mudança de rumos com Otacílio Cartaxo à frente do Fisco.

¿ A Receita continua sendo administrada por auditores fiscais, o que pressupõe perfil técnico e comprometimento com os interesses da sociedade.

Não há por que não dar um voto de confiança ao novo secretário ¿ disse Delarue.

Em Recife, funcionários decidem esperar novo chefe No Rio Grande do Sul, o superintendenteadjunto da 10 aRegião, Marcelo Ramos Oliveira, pôs o cargo à disposição. Segundo ele, 15 servidores, entre chefes de divisão e delegados, pediram para sair: ¿ Se eles vão sair mesmo depende de o novo chefe convidar e convencer a ficar. Ninguém quer ficar pela gratificação, que é baixa se comparado com o trabalho que se tem.

O ex-superintendente gaúcho Dão Real Pereira dos Santos foi um dos 12 que assinaram a carta pedindo exoneração.

O novo superintendente nomeado por Cartaxo assumirá hoje.

Mesmo depois de ter se afastado do cargo, o ex-superintendente da Receita Federal em Pernambuco Altamiro Dias de Souza recomendou aos seus ex-subordinados que continuem trabalhando até que seja indicado um novo dirigente para a 4aRegião, que abrange Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas. Em reunião ontem em Recife, os detentores de cargos de confiança tiveram o dia do fico. Do encontro participaram a superintendente interina, Maria da Conceição Arnaldo Jacob, o adjunto Luiz Carlos Queiroz, sete delegados e três inspetores.

Escolhido como porta-voz da reunião, o delegado de Alagoas, Francisco Augusto Carlos, foi categórico: ¿ Ninguém pediu demissão na Regional e nem há pretensão de pedir.

Vamos aguardar o novo superintendente que, quando assumir, poderá fazer as mudanças que considerar necessárias. A saída de Altamiro foi uma decisão pessoal. Nós a lamentamos, porque é um técnico excepcional.